Patrícia, filha de uma violação e criada numa família sem posses, transformou a dor em esperança ajudando crianças vulneráveis. Manuel Luís Goucha reagiu à história emotiva com uma mensagem com destinatário.
Patrícia é o exemplo de como a dor pode ser transformada em esperança para outros. Cresceu numa família sem posses e é filha de uma violação. Depois de ouvir a sua história, Manuel Luís Goucha enviou uma mensagem: "Não sei se o homem que lhe deu parte do seu ser está a ver a conversa. Se estiver a ver, pense bem na filha que não teve e perdeu"
A história de Patrícia
A vida de Patrícia começou com uma revelação chocante: a sua mãe engravidou aos 14 anos após uma violação, dando-lhe à luz aos 15. Apesar da dureza da sua própria história, a mãe de Patrícia recusou-se a abandoná-la, e Patrícia cresceu nos primeiros anos sob os cuidados da avó materna. Quando soube, aos 11 anos, Patrícia confessa que teve um impacto forte em si, mas hoje vê as coisas de outra forma: "Olho para o meu pai e, ao mesmo tempo, digo obrigado. Se não fosse ele não estava aqui".
Embora a sua mãe a visitasse frequentemente, a ausência deixava-lhe saudades profundas. A falta de luz e as condições insalubres eram apenas algumas das dificuldades que Patrícia enfrentava, que vivia numa barraca. Com apenas nove anos, teve uma perda significativa quando a sua avó faleceu, obrigando-a a ir viver com a mãe. Foi também nessa altura que começou a confrontar-se com as barreiras emocionais que acompanhariam a sua vida.
Adolescência Marcada pela Tragédia e Solidão
Já depois de emigrar, aos 17 anos, a sua vida sofreu outra reviravolta trágica: a mãe morreu num acidente de automóvel. Este evento deixou-a não só sem mãe, mas também sem rumo. Patrícia não tinha dinheiro para voltar a Portugal e foi ajudada por patrões: "A primeira vez que andei de avião foi para ir ao funeral da minha mãe".
Sem o apoio do pai biológico, que nunca mostrou interesse em conhecê-la, Patrícia experimentou a solidão mais profunda. Mesmo aos 18 anos, quando teve a oportunidade de se encontrar com o pai e os avós paternos, optou por não revelar a sua identidade.
Determinado a construir um futuro longe do passado de dor, Patrícia emigrou novamente para a Suíça ainda jovem, onde começou a trabalhar como empregada doméstica.
Uma Nova Vida na Suíça
Patrícia envolveu-se no cuidado de uma idosa que se tornou, para ela, uma figura maternal e uma fonte de apoio emocional. “Na Suíça cuidei de uma senhora que foi uma espécie de mãe para mim”, relembra com gratidão. No entanto, o passado continuou a deixar marcas nas suas relações, e Patrícia confessa que muitos dos seus relacionamentos falharam devido aos traumas que trazia consigo.
O Propósito do Voluntariado em África
Apesar de todas as provações, Patrícia encontrou uma nova missão de vida: ajudar crianças em África. Como voluntária, dedica o seu tempo e recursos a apoiar crianças que vivem em condições de extrema pobreza e vulnerabilidade, muitas vezes semelhantes àquelas que ela própria enfrentou. “Ajudar crianças que sofreram o mesmo que eu, salvou-me”, diz Patrícia, descrevendo o trabalho voluntário como uma forma de se reconectar e de dar sentido à sua vida.