A dor de perder uma mãe longe de casa: «A primeira vez que andei de avião foi para ir ao funeral»

  • Goucha
  • 4 nov, 18:49

Patrícia enfrentou uma vida de perdas e adversidades, transformando a dor em força para ajudar crianças vulneráveis em África. Fruto de uma violação e criada pela avó, viu a mãe morrer tragicamente num acidente de automóvel quando. A trabalhar na Suíça e sem recursos para regressar a Portugal, contou com a ajuda dos patrões para comparecer ao funeral.

Patrícia é o exemplo de como a dor pode ser transformada em esperança para outros. Cresceu numa família sem posses e é filha de uma violação. Apesar de não ter a mãe desde sempre, Patrícia sempre olhou para esta como uma lutadora. Por isso, quando a perdeu, entrou em depressão.

Uma Infância Dura e Solitária

A vida de Patrícia começou com uma revelação chocante: a sua mãe engravidou aos 14 anos após uma violação, dando-lhe à luz aos 15. Apesar da dureza da sua própria história, a mãe de Patrícia recusou-se a abandoná-la, e Patrícia cresceu nos primeiros anos sob os cuidados da avó materna. Quando soube, aos 11 anos, Patrícia confessa que teve um impacto forte em si, mas hoje vê as coisas de outra forma: "Olho para o meu pai e, ao mesmo tempo, digo obrigado. Se não fosse ele não estava aqui".

Embora a sua mãe a visitasse frequentemente, a ausência deixava-lhe saudades profundas. A falta de luz e as condições insalubres eram apenas algumas das dificuldades que Patrícia enfrentava, que vivia numa barraca. Com apenas nove anos, teve uma perda significativa quando a sua avó faleceu, obrigando-a a ir viver com a mãe. Foi também nessa altura que começou a confrontar-se com as barreiras emocionais que acompanhariam a sua vida.

Adolescência Marcada pela Tragédia e Solidão

Já depois de emigrar, aos 17 anos, a sua vida sofreu outra reviravolta trágica: a mãe morreu num acidente de automóvel. Este evento deixou-a não só sem mãe, mas também sem rumo. Patrícia não tinha dinheiro para voltar a Portugal e foi ajudada por patrões: "A primeira vez que andei de avião foi para ir ao funeral da minha mãe".

Sem o apoio do pai biológico, que nunca mostrou interesse em conhecê-la, Patrícia experimentou a solidão mais profunda. Mesmo aos 18 anos, quando teve a oportunidade de se encontrar com o pai e os avós paternos, optou por não revelar a sua identidade. 

Determinado a construir um futuro longe do passado de dor, Patrícia emigrou novamente para a Suíça ainda jovem, onde começou a trabalhar como empregada doméstica.

Uma Nova Vida na Suíça

Patrícia envolveu-se no cuidado de uma idosa que se tornou, para ela, uma figura maternal e uma fonte de apoio emocional. “Na Suíça cuidei de uma senhora que foi uma espécie de mãe para mim”, relembra com gratidão. No entanto, o passado continuou a deixar marcas nas suas relações, e Patrícia confessa que muitos dos seus relacionamentos falharam devido aos traumas que trazia consigo.

O Propósito do Voluntariado em África

Apesar de todas as provações, Patrícia encontrou uma nova missão de vida: ajudar crianças em África. Como voluntária, dedica o seu tempo e recursos a apoiar crianças que vivem em condições de extrema pobreza e vulnerabilidade, muitas vezes semelhantes àquelas que ela própria enfrentou. “Ajudar crianças que sofreram o mesmo que eu, salvou-me”, diz Patrícia, descrevendo o trabalho voluntário como uma forma de se reconectar e de dar sentido à sua vida.

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