«Homens da Luta não dignificam a música portuguesa» - TVI

«Homens da Luta não dignificam a música portuguesa»

«A luta é alegria»

José Cid, Simone de Oliveira e António Calvário criticam escolha de «A Luta é Alegria» para representar Portugal na Eurovisão

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A canção que representará Portugal no Festival da Eurovisão, «A Luta é Alegria», reflecte o momento mas não dignifica a música portuguesa, afirmaram à agência Lusa três antigos concorrentes.

José Cid, que representou a RTP em 1980, Simone de Oliveira, que concorreu em 1965 e 1969, e António Calvário, que foi o primeiro a ir ao Eurofestival, em 1964, afirmaram à Lusa que não é a canção adequada para representar o país.

«A Luta é Alegria», defendida pelos Homens da Luta será a 16ª canção a desfilar na primeira semi-final do Festival da Eurovisão, que acontece terça-feira em Dusseldorf (Alemanha).

«É uma canção de que gosto e bastante, e que até era capaz de cantar, mas não é para um festival. Não é uma canção para representar Portugal na Eurovisão, reflecte o contexto especial, tem a ver com os nossos problemas e nada a ver com o Festival», disse António Calvário, que em 1964 foi a Copenhaga cantar «Oração».

Também José Cid defende que o tema é «o espelho da revolta do povo e da classe média deste país que foi maquiavelicamente destruída nos últimos 15/20 anos, e aplica-se à época que o país atravessa, que é uma fase de desmoralização».

Para o intérprete de «Um Grande, Grande Amor», canção que levou a Haia e de onde trouxe um 7º lugar, «A Luta é Alegria» tem a legitimidade de representar o país «porque venceu o Festival RTP da Canção». Todavia, José Cid questiona o modelo de votação, criticando o televoto e defendendo um júri «assumidamente escolhido pela televisão».

O músico defendeu que a RTP devia «enviar canções com um cariz mais étnico, como a que Lúcia Moniz levou [em 1996, «O Meu Coração Não Tem Cor», que alcançou o 6º lugar]».

«Como canção de protesto já ouvi mais bem cantadas, melhor tocadas e com melhor letra», rematou.

Também Simone de Oliveira que representou a RTP com «Sol de Inverno» (1965), em Nápoles, e «Desfolhada Portuguesa», em Madrid, em 1969, afirmou que esta «não é a canção indicada» para representar Portugal e acrescentou: «É panfletária e tem razão de ser num comício».

«Sou capaz de perceber as canções de luta e protesto mas não é aquilo. Sou capaz de perceber canções como "A Tourada", "Ave Maria do Povo", a "Desfolhada", "E Depois do Adeus". Aquilo ("A Luta é Alegria") é uma atitude de rebeldia de uma gente nova, mas que não dignifica nada a música ligeira portuguesa», sustenta.

«Onde é que estão os poetas e os músicos do meu país?», questiona a cantora que representou Portugal noutras competições como o Festival da OTI. Simone de Oliveira afirma-se mesmo «surpreendida» pela vitória dos Homens da Luta.

Na semi-final com Portugal concorrem a Polónia, Noruega, Albânia, Arménia, Turquia, Sérvia, Rússia, Suíça, Geórgia, Finlândia, Malta, São Marino, Croácia, Islândia, Hungria, Lituânia, Azerbaijão e Grécia.

No grupo em que está a canção dos Homens da Luta, Noruega, Grécia, Turquia, Rússia e Suíça já venceram o certame.

A segunda semi-final realiza-se na quinta-feira com as canções da Bósnia e Herzegovina, Áustria, Holanda, Bélgica, Eslováquia, Ucrânia, Moldávia, Suécia, Chipre, Bulgária, Ex-República Jugoslava da Macedónia, Israel, Eslovénia, Roménia, Estónia, Bielorrússia, Letónia, Dinamarca e República da Irlanda.

De cada semi-final saem dez canções para a final, que se realiza no sábado e para a qual tiveram acesso directo Alemanha, França, Espanha, Itália e Reino Unido.
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