Traumas, saúde mental, sexo, espiritualidade, luto e comportamento. Nas obras de Han Kang, de 53 anos, há sempre complexidade, seja nos temas ou nas próprias personagens, todas elas o espelho da realidade que vai além da Coreia do Sul: a fragilidade da vida humana. A autora venceu esta quinta-feira o prémio Nobel da Literatura, a 18ª mulher a consegui-lo e a primeira sul-coreana laureada na história do país.
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— The Nobel Prize (@NobelPrize) October 10, 2024
The 2024 #NobelPrize in Literature is awarded to the South Korean author Han Kang “for her intense poetic prose that confronts historical traumas and exposes the fragility of human life.” pic.twitter.com/dAQiXnm11z
São quatro as obras traduzidas para português e editadas em Portugal, todas pela Dom Quixote, com destaque para A Vegetariana, livro vencedor do Man Booker International Prize, em 2016, e que catapultou Kang, tanto pela excentricidade com que aborda questões como a sexualidade, o corpo, a saúde mental e a sociedade, como pela sua própria forma de pensar e de escrever o que pensa: sente a dor e inscreve-a em cada palavra da sua obra.
Se Yeong-hye - protagonista deste livro - deixa de comer carne para que o seu corpo se redescubra junto da natureza, sinta a verdadeira dor, tal apenas foi possível porque a própria Kang diz sentir dor quando a carne é cozinhada. É este o nível de complexidade das suas obras, seja num sentido literal ou fictício. Com Kang nunca se sabe. Nas suas obras, as personagens são tudo menos mundanas, são quase como uma alucinação, alguém que dificilmente faria parte da vida real, por muito reais que nos pareçam.
"Atos Humanos" chegou a Portugal em 2017 e trouxe um lado mais fervoroso e intenso de Kang, numa obra onde a reivindicação social dá palco à luta pela expressão social. O livro foi a forma de a própria Kang lidar com o luto do massacre Gwangju, em 1980, um dos mais sangrentos e violentos da história do país. Gwangju é a cidade natal de Kang, que se mudou para Seul aos dez anos.
"O Livro em Branco" foi editado por cá em 2019, com o luto e o renascimento a trazer para a discussão o sentido da vida, numa obra um tanto ou quanto pessoal, com a sua irmã falecida como inspiração. Já "Lições de Grego", editado em 2023, traz a Kang do costume, complexa, difícil de compreender, e que faz do corpo humano uma tela, uma página em branco para todo e qualquer tipo de sofrimento, seja emocional, físico ou mental.
Han Kang nasceu em 1970 e é filha do escritor Han Seung-won. É formada em Literatura Coreana pela Universidade de Yonsei e a sua estreia como autora aconteceu em 1993, com cinco poemas publicados na revista Literatura e Sociedade. No ano seguinte escreve o conto Red Anchor, que lhe valeu um prémio.