A coligação PSD/CDS-PP/PPM venceu as eleições regionais dos Açores, com 42% dos votos e 24 deputados na Assembleia Regional, mas ficou a três deputados da maioria absoluta. Seguiu-se o PS, com 35,91% dos votos, o que lhe dá 23 deputados, e depois o Chega, que com 9,19% conseguiu eleger cinco deputados. Bloco de Esquerda, Iniciativa Liberal e Livre ficaram com um deputado cada.
"Governarei com maioria relativa. E não se trata de uma minoria, uma vitória nunca é uma minoria, é uma maioria de votos e de mandatos”, fez questão de sublinhar José Manuel Bolieiro, o líder regional do PSD, sublinhando que o partido venceu em seis ilhas em nove, em 13 concelhos em 19, e em 106 freguesias em 155. "Creio que não há margem para dúvidas que tenho o povo ao meu lado e que esta liderança da governação não pode ceder a chantagens", disse.
Essa mesma ideia tinha sido já transmitida pelo líder nacional do PSD: "Estes resultados configuram uma situação política que dá a esta coligação condições de governabilidade nos próximos quatro anos na região dos Açores", afirmou Luís Montenegro. "E isto, não obstante não haver uma maioria absoluta da coligação", uma vez que, frisou, "só pode haver um governo alternativo a este se todas as forças políticas da oposição - em particular duas, o PS e o Chega - se unirem e coligarem. É, portanto, desse lado, que a questão de haver uma alternativa deve ser colocada. Deste lado, há todas as condições para prosseguir aquilo que foi a decisão do povo açoriano: continuar a governar como nos últimos três anos."
Montenegro celebrou, por isso, "uma vitória eleitoral que não alcançávamos há 32 anos": "Quero dizer-te, José Manuel, que é uma honra verificar a forma como te relacionas com esta comunidade, como pões os interesses dos Açores e dos açorianos sempre à frente de qualquer outro interesse, incluindo do PSD", disse o líder do continente, que, como é óbvio, vê nestes resultados a rampa de lançamento ideal para a campanha que vai em breve vai começar para as eleições legislativas: Bolieiro, admitiu, "é uma inspiração para aquilo que vamos fazer a partir do dia 10 de março em todo o país"
Mas governar com minoria vai ser um desafio. Estará Bolieiro disposto a fazer um acordo de governação com o Partido Socialista ou com o Chega?
"Fui claro no meu pedido: preferia uma maioria estável. Mas sempre disse que o soberano é o povo e eu cumpriria a vontade do povo. Face à personalização desta campanha, assumo que o povo escolheu-me a mim e decidiu castigar o líder do Partido Socialista, Vasco Cordeiro", respondeu, deixando subentendido que, associar-se ao PS neste momento momento, seria um desrespeito pela vontade popular. "Eu tenho uma responsabilidade: governar um governo desta coligação. E o Partido Socialista tem que fazer esta leitura: deixar de fazer uma campanha negativa."
Já sobre o Chega nada disse.
No entanto, nas suas declarações, antes ainda de os resultados serem oficiais, André Ventura, líder do Chega, congratulou-se pelo facto de o partido mais do que ter duplicado os resultados de 2020: "O Partido Socialista e a esquerda não terão maioria parlamentar e isso deve-se, em grande parte, ao crescimento exponencial do Chega em todas as ilhas, com particular ênfase em São Miguel e na Terceira, os dois maiores círculos eleitorais", disse. E, logo a seguir, acrescentou: "Ao que tudo indica, o Chega será o partido decisivo para a governação dos Açores nos próximos quatro anos".
Na sua opinião, "a única hipótese de Governo é com um acordo entre PSD e Chega", uma vez que só assim se poderá garantir "a estabilidade governativa na região". E "o Chega não se furtará a essa responsabilidade", disse. "A partir de hoje mesmo começaremos a trabalhar com o PSD para podermos ter um Governo a quatro anos. (...) Estamos a trabalhar para que esse acordo seja possível", garantiu, embora reconheça que esse acordo poderá demorar e não ser alcançado em dois ou três dias.
Como não podia deixar de ser, Vasco Cordeiro, o candidato do PS-Açores, assumiu a derrota: "Os resultados destas eleições são claros e evidentes na demonstração que a minha candidatura não alcançou o sucesso a que eu me propus, que eu desejava. Fiquei aquém dos resultados que havia fixado para estas eleições". Reagindo no Largo do Rato, em Lisboa, o líder nacional, Pedro Nuno Santos, assumiu a sua quota-parte de responsabilidade: "Quando o PS ganha, ganha todo o PS. Quando o PS perde, perde todo o PS e hoje o PS perdeu", admitiu. "Mas queremos que os açorianos saibam que nós continuaremos sempre ao seu lado a lutar pelo desenvolvimento económico e social dos Açores. Para nós só existe um Portugal."
Sobre a possibilidade de viabilizar o governo de direita dos Açores, Pedro Nuno Santos não se comprometeu: "Temos um profundo respeito pela autonomia do Partido Socialista dos Açores e vamos apoiar a decisão que for tomada pelos socialistas açorianos."
Mas avisou: "Não podemos extrapolar a realidade açoriana para a realidade nacional, são planos diferentes e têm respostas diferentes".
"No plano nacional, continuamos focados na vitória, com a mesma motivação e a mesma motivação que tínhamos ontem. Esse é o único cenário que nos interessa. Noutro cenário, devo dizer que é muito difícil, praticamente impossível que o PS possa viabilizar um governo de direita. Por uma razão de ordem democrática - seria profundamente negativo para Portugal termos o PS e o PSD comprometidos com a mesma governação. E depois uma razão de ordem programática, política, ideológica: a visão que nós temos do país é muito distante da que tem o PSD, não é compatível e nós nunca trairíamos o eleitorado do partido socialista. Não queria que se criassem ilusões sobre essa matéria."