60% das empresas portuguesas não têm um plano de ação climática para reduzir emissões e/ou cumprir as metas climáticas. Esta é uma das conclusões do estudo NetZero Survey Portugal da consultora PwC.
Ainda assim, 54% das empresas inquiridas afirmou já ter definido metas de redução de emissões. Apenas 22% estão comprometidas com a neutralidade carbónica. Entre as principais medidas de redução das emissões está a eficiência energética (84%), energias renováveis (82%) e a mobilidade sustentável (56%).
Mas afinal, o que é um plano de ação climática? Este é um ou vários documentos em que é estabelecida uma estratégia para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e fortalecer a resiliência climática. Para tal, é necessário avaliar as condições existentes numa determinada empresa, resumir os riscos climáticos, fazer um inventário das emissões de gases de efeito estufa e definir estratégias e metas.
A Advocatus foi tentar saber se as sociedades de advogados estão comprometidas com o combate às alterações climáticas. Tanto a Sérvulo & Associados, como a Garrigues e a PRA – Raposo, Sá Miranda & Associados garantiram que possuem planos de ação climática.
“A Sérvulo assumiu publicamente, perante a Câmara Municipal de Lisboa, um conjunto de compromissos para reduzir o consumo de energia e água nas suas instalações, bem como no sentido de adotar práticas que promovam a economia circular, genericamente designados de “compromissos verdes””, explicaram Ana Luísa Guimarães e Paulo Câmara, coordenadores da equipa de ESG [Environmental, Social e Governance] da Sérvulo.
Para atingir esses “compromissos verdes”, a Sérvulo tem substituído progressivamente a iluminação fluorescente por LED em todos os edifícios, que levou a uma diminuição de 16% no consumo de energia elétrica, e instalado dispositivos economizadores nos equipamentos de água, permitindo uma variação negativa no consumo de água.
Os advogados explicaram ainda que o escritório assumiu também o compromisso de eliminar os plásticos de utilização única. Para tal, deixaram de disponibilizar aos colaboradores copos de plástico para água e café. “Ainda no campo da economia circular, a Sérvulo introduziu novos mecanismos de redução das impressões em papel, materializando uma redução significativa de 1400 resmas, em 2020, para 771, em 2022”, acrescentaram.
O plano de ação climática foi desenvolvido pelo serviço ESG da Sérvulo, que é composto por sócios e advogados de diversas áreas de prática, em articulação com a Comissão Executiva da sociedade.
Também na Garrigues estão comprometidos com “soluções mais verdes”. Fonte oficial do escritório explicou que calculam a pegada de carbono desde 2004 e dispõem de um plano de ecoeficiência desde 2008. Este plano aplica-se a toda a cadeia de valor da firma e assenta em três pontos principais: melhoria da eficiência energética dos escritórios; contratação de energia elétrica com garantia de origem renovável; e redução dos impactos ambientais nos escritórios e na mobilidade dos profissionais destes locais de trabalho.
“O objetivo é um consumo mais responsável, espaços mais sustentáveis e uma menor pegada de carbono. O Plano de Ecoeficiência da Garrigues está alinhado com o Pacto Global das Nações Unidas, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, o Plano de Economia Circular da Comissão Europeia e o European Green Deal”, notou fonte oficial.
Para a conceção e implementação do plano de ação climática, as áreas de gestão da Garrigues trabalharam em estreita colaboração com os advogados especializados em meio ambiente. Já para a sua definição, foram igualmente tidos em conta os interesses dos stakeholders. Atualmente o plano é supervisionado pelo Comitê ESG da Garrigues, liderado globalmente pela sócia Rosa Zarza.
Já a PRA, desde 2021, que integra no plano de gestão e de responsabilidade social corporativa os critérios ESG. “Para além da permanente sensibilização ambiental que levamos a cabo internamente, vimos desde 2021 a adotar várias medidas ao nível da redução de consumos energéticos e de gestão de resíduos”, disse Joana de Sá, sócia e membro da equipa de ESG.
Entre as medidas destacadas pela sócia estão o planeamento da iluminação artificial dos escritórios, as medidas tendentes à redução do consumo de água e a substituição de diversos materiais e equipamentos considerando o seu potencial de reutilização e ou seu conteúdo menos poluente.
“No que à diminuição de emissões de dióxido de carbono se refere, deixamos, a título de exemplo, algumas das ações que tipicamente integram o nosso dia-a-dia como sejam: segmentação para reciclagem de todo o lixo produzido nos nossos escritórios, diminuição crescente do número de deslocações em veículo automóvel e avião, quer pela realização de reuniões remotas, quer pela adesão ao modelo de car sharing”, explicou.
Também desde 2021 que a PRA é subscritora da Cartilha de Sustentabilidade dos Açores, associando-se aos diversos compromissos e metas ao nível ambiental daquela Região Autónoma.
Com planos bem delineados e metas estabelecidas, os escritórios de advogados designam equipas que ficam responsáveis pela execução dos mesmos.
Na Garrigues esse papel cabe ao comité ESG, responsável pela coordenação da estratégia do escritório nesta área, e que é composto por representantes de diferentes países, áreas e departamentos internos. Já na PRA esse papel cabe a uma equipa multidisciplinar que agrega know-how nas diversas áreas da sustentabilidade, designadamente na área ambiental que é a responsável por propor as linhas gerais de atuação e coadjuvar o Conselho de Administração na implementação dos compromissos também em matéria de ação climática.
Metas e superação das mesmas
Desde espaços de trabalho sustentáveis até à sensibilização sobre práticas sustentáveis, alguns escritórios já delinearam as suas principais metas para 2023, enquanto outros ainda não as definiram.
Por exemplo, na Garrigues entre os cinco grandes objetivos está espaços de trabalho sustentáveis, saudáveis e acessíveis; o consumo responsável e maior eficiência energética; a gestão adequada de resíduos para promover a economia circular; o combate às alterações climáticas através da redução das emissões de gases com efeito de estufa; e a promoção de formação e sensibilização sobre práticas sustentáveis.
Na Sérvulo as metas para 2023 ainda estão a ser delineadas pela equipa de ESG. No entanto, garantiram que continuam a trabalhar para superar as metas delineadas para 2022. O escritório antecipou que um dos principais focos das próximas metas prende-se com a substituição das lâmpadas LED em todas as instalações e a redução de utilização de plástico no material de escritório.
Também na PRA não existem “metas” propriamente definidas. “Não obstante, e porque estamos totalmente alinhados e comprometidos com os ODS | Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, no prisma ambiental em particular com o ODS 13 | Ação climática, o nosso plano e compromisso é o de quer monitorizar o resultado de todas as medidas já levadas a cabo, como o de planificar novas medidas tendentes a dar o nosso, ainda que pequeno, contributo para fazer face a emergência climática mundial”, explicou Joana de Sá.
Questionados se as metas têm sido cumpridas, a Garrigues garante que são a firma europeia de advocacia que mais reduziu as suas emissões nas três edições do ranking internacional Climate Leaders do FT Europe. Fonte oficial sublinhou ainda que desde 2021 que têm um balanço líquido de carbono 0 (zero emissões líquidas) para as metas 1 e 2. “O plano também teve grandes avanços a nível de eficiência energética”, disseram.
“Desde 2020, 100% da superfície de todos os escritórios da Garrigues na União Europeia, incluindo os escritórios de Lisboa e Porto, consumiram eletricidade com garantia de origem renovável (88% a nível global) e temos ainda um projeto de melhoria das classificações energéticas dos nossos escritórios, com objetivos ambiciosos para o período 2023-2025”, explicou o escritório.
Na área da sensibilização ambiental, a Garrigues lançou vários projetos de formação interna como a iniciativa “Get on the Wheel of ESG”. “São objetivos importantes que nos estimulam a continuar a trabalhar em novos projetos e a adotar novas medidas”, acrescentaram.
Já Ana Luísa Guimarães e Paulo Câmara, coordenadores da equipa de ESG da Sérvulo, sublinharam que qualquer estratégia de sustentabilidade ambiental depende do conhecimento do impacto que está a ser gerado. Assim, garantiram que, desde 2020, o serviço ESG da firma tem vindo a acompanhar os efeitos das medidas adotadas através do cálculo anual da sua pegada carbónica.
“A monitorização dos gastos do escritório em eletricidade, papel, ou no recurso a transportes, permitiu-nos assistir a uma evolução positiva dos resultados alcançados. Apesar do crescimento orgânico da Sérvulo, que implicaria um maior consumo daqueles recursos, foi possível, com a execução das suas políticas, reduzir proporcionalmente a pegada per capita”, referiram.
Os advogados sublinharam também a crescente redução do consumo de papel através de uma das iniciativas de substituição de impressoras implementada em 2022, com vista a diminuir o número de impressões. “Destacam-se, ainda, as viagens de avião, que sofreram uma significativa diminuição desde 2019”, concluíram.