Foi conseguida "uma grande vitória" na luta contra a doença de Alzheimer. Mas há também uma grande preocupação com essa vitória - TVI

Foi conseguida "uma grande vitória" na luta contra a doença de Alzheimer. Mas há também uma grande preocupação com essa vitória

  • PP
  • 30 nov 2022, 10:30

Em causa está um medicamento que conseguiu atrasar o declínio cognitivo na fase inicial da doença

Muitos consideram a doença de Alzheimer a próxima pandemia e, até agora, nenhum medicamento parecia retardar a doença. Mas um medicamento experimental conseguiu atrasar o declínio cognitivo numa fase inicial da doença, avança a Reuters. No entanto, ainda há algumas questões relacionadas com os efeitos secundários deste fármaco, chamado Lecanemab.

A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência e, a confirmarem-se estes resultados, podemos entrar numa nova era de combate à doença - o que dá esperança a novas terapias. Este é mesmo considerado o maior avanço dos últimos 30 anos.

As farmacêuticas Eisai e Biogen são as responsáveis por este medicamento experimental - o qual, segundo dados clínicos revelados terça-feira, podem ter efeitos secundários graves em alguns pacientes.

Os pacientes com Alzheimer têm placas de proteínas, chamadas amiloides, que se formam ao redor dos seus neurónios e, eventualmente, os destroem. O Lecanemab consegue atacar essas placas amiloides no cérebro.

Atualmente, os pacientes com Alzheimer são tratados com medicamentos que ajudam a gerir os sintomas, mas nenhum era capaz de alterar o desenvolvimento da doença.

O Lecanemab é um anticorpo, como os produzidos pelo corpo quando atacam viroses ou bactérias, que foi "desenhado" para dizer ao sistema imunitário para limpar as placas de proteínas.

Os efeitos secundários

Apesar da descoberta ser considerada uma vitória, há algumas questões em relações a potenciais efeitos secundários. Charles Marshall, da Universidade Queen Mary, de Londres, já alertou que foram detetados alguns, "incluindo inflamação e sangramento no cérebro".

Os riscos são reais. 17% dos participantes no ensaio clínico revelaram risco de hemorragia cerebral e 13% de inflamação do cérebro. Cerca de 7% dos voluntários tiveram mesmo de desistir do tratamento devido aos efeitos secundários, escreve a BBC.

A morte de dois voluntários do ensaio clínico levantou dúvidas sobre o medicamento - trata-se de uma mulher com 65 anos e um homem na casa dos 80 anos. Mas a farmacêutica Eisai nega que as situações estejam ligadas ao uso do Lecanemab.

Num entrevista à agência Reuters, o responsável norte-americano da empresa, Ivan Cheung, defendeu que ambas as mortes “não podem ser atribuídas ao Lecanemab” e que a empresa tem protocolos ativos para vigiar possíveis edemas cerebrais.

"Uma grande vitória"

Em setembro passado as farmacêuticas já tinham divulgado que o tratamento com Lecanemab reduzia em 27% o declínio cognitivo de pacientes nos estágios iniciais da doença de Alzheimer, segundo os resultados preliminares de ensaios clínicos com quase 1.800 pessoas que duraram cerca de 18 meses.

Ainda no decorrer desta semana, é esperada a divulgação dos resultados finais desta investigação, numa conferência sobre Alzheimer, em São Francisco, nos Estados Unidos - altura em que, segundo a Reuters, também deve ser requerida a autorização para os EUA. A resposta da Food and Drug Administration (FDA), o regulador de medicamentos nos EUA, para o possível uso do medicamento deve ser dada até 6 de janeiro de 2023.

Outras farmacêuticas já tinham tentado seguir a mesma linha de investigação mas nunca com resultados a este nível. Mesmo que este tratamento não leve à cura, o facto de "retardar o declínio cognitivo - e assim preservar a possibilidade de se realizar as atividades diárias normais - já é uma grande vitória", sublinhou Tara Spires-Jones, da Universidade de Edimburgo, em setembro, quando se conheceram os primeiros resultados. 

Segundo a BBC, Tara Spires-Jones disse ainda que esta “era uma grande vitória porque a taxa de insucesso dos ensaios realizados até agora era de 100%”

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