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Pedro levou os amigos para a marcha da Liberdade e Vincent foi ver o resultado da luta do bisavô. 25 de Abril, um olhar diferente sobre a festa

Marcha de comemoração do 25 de Abril reuniu centenas de pessoas que vieram de todos os cantos do mundo. Dos Estados Unidos à Palestina e ao Brasil, todos caminharam junto da memória dos portugueses

“O quão especial é uma revolução sem violência”. É desta forma que Pedro Rodrigues, 24 anos, descreve a Revolução dos Cravos aos amigos estrangeiros que trouxe para a marcha que ocorreu esta quinta-feira na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Muitos dos que marcham são habitué, mas este ano a ameaça que paira em torno da Europa e do mundo, com duas guerras que ameaçam ser globais, e a ameaça populista, trouxeram um olhar internacional a este dia. 

Ao lado de Pedro Rodrigues caminha Vincent Van der Linden, bisneto de um português que esteve preso seis anos, em três prisões diferentes, durante o regime de Salazar. O jovem americano, de 22 anos, carrega consigo a memória da mãe, que recorda as palavras do bisavô: “Quando um governo nos priva dos nossos direitos fundamentais, da nossa autonomia, deixamos de ser um ser humano. Tornamo-nos num mero peão no jogo cruel de um ditador. Nunca te permitas ser esse peão".

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Vincent não sabe o que é ser "um peão", mas caminha junto da enchente que cobriu a Avenida, com conhecimento das suas raízes familiares. Conta que o bisavó detinha uma empresa de imprensa para esclarecer as pessoas das “duras realidades” vividas naquele tempo. "O meu bisavô tinha como missão informar". A empresa tinha o nome de "Casa da Música", porque para tapar o som das máquinas e impressoras, o bisavô punha música a tocar enquanto produzia materiais para divulgação.

A operação clandestina durou três anos até que a PIDE prendeu o bisavô de Vincent. Segundo descreve Cesaltine Gregorio, mãe do jovem, o português “sofreu interrogações brutais, tortura e confinamento prolongado na solitária”.

Com a história do bisavô no coração, Vincent marcha junto dos colegas de mestrado. Um deles, André Zapatta, de 26 anos, que diz que é notável a importância que esta data tem para os portugueses. “Vê-se que não é uma celebração qualquer, paira uma mensagem no ar”, diz o jovem peruano. 

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Entre as bandeiras de Portugal, dos diferentes partidos e movimentos, salta à vista as bandeiras da Palestina. E também cartazes como: “Palestina Livre”, “Fim ao genocídio”, “Romper relações com Israel”. Mário Cássimo, antigo membro da Amnistia Internacional em Portugal, estava junto ao passeio da Avenida da Liberdade, a segurar um cartaz pró-Palestina, para relembrar que “a questão humanitária prevalece sobre todas as outras questões”. 

Mário Cássimo (Foto: JOANA MOSER)

“Está a acontecer um genocídio vergonhoso”, sublinha Cássimo, referindo que a comunidade internacional não está a dar “a devida importância ao cenário de guerra em que se vive na Faixa de Gaza”. Estava de pé, com uma postura firme, e por ele iam passando várias pessoas que paravam para fotografar o cartaz. “Cruzei muitos olhares solidários, é visível a simpatia pela causa palestina”. 

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Há quem defenda que “Abril ainda está para acontecer”, sobretudo na Palestina, diz Mário Cássimo, que argumenta que Portugal devia ser “mais interveniente, tal como foi com a Ucrânia”. 

(Foto: JOANA MOSER)

O apelo à libertação da Palestina não é o único olhar estrangeiro ao 25 de Abril. Entre as várias pessoas da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), há um raio de luz que brilha sobre Luzia Lima Rodrigues. “Chupa Bolsonaro”, lê-se no cartaz que leva consigo enquanto acompanha um dos últimos blocos da marcha. 

“No Brasil não há um dia como este. Venho todos os anos”. Luzia Lima Rodrigues é professora universitária e vive em Portugal há 21 anos. Para ela, este dia é também das minorias. “Há cada vez mais diversidade de manifestações, seja de imigrantes, da comunidade LGBT, ou de cidadãos palestinianos”. Mas aquilo que a fascina sobre este dia é o facto de as escolas portuguesas estarem dedicadas em “manter a memória”. “É essa memória que me dá esperança de que não percamos a nossa liberdade”. 

Luzia Lima Rodrigues (Foto: JOANA MOSER)

A professora descreve o cartaz que tansporta como uma “forma humorística” de chamar a atenção para líderes populistas que “levam o povo à desgraça e ao aumento das desigualdades”. Luzia relembra que durante a governação de Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, os estudantes eram “estimulados a filmar os professores nas aulas, sempre que falassem sobre a memória brasileira”. “Era uma forma de censura”. E compara esta atitude com “o discurso de direita em Portugal”, que descreve como “fácil” e apelativo a “pessoas iletradas”.

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