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São Paulo: a capital do medo

Um sequestrado a cada oito horas. 25 assassínios por dia. Brasileiros saíram à rua para protestar contra a violência. Muitos já a viveram na primeira pessoa

O jornal espanhol El País traz, esta segunda-feira, uma reportagem que relata o dia-a-dia violento de São Paulo, com o título «Viver na capital do medo». O texto afirma que «a situação na cidade chegou a tal extremo que milhares de brasileiros fizeram manifestações ontem nas principais cidades do país para protestar contra a violência desencadeada em São Paulo».

Entrevistas com moradores que já viveram experiências como sequestros e assaltos sob mira de metralhadoras demonstram que há hábitos preventivos para escapar à violência nas ruas. De acordo com a reportagem, muitos paulistas levam uma segunda carteira, contendo pouco dinheiro e documentos velhos, não param no sinal vermelho e não contam detalhes sobre a vida pessoal nem aos vizinhos, uma vez que «muitos sequestros contam com a participação de alguém conhecido».

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Eveli Andriolo, relata o El País, não podia imaginar que, numa manhã de Verão, viajando com outras pessoas no interior de um carro no centro da cidade, iria engrossar as estatísticas.

«Sequestraram-me por caso: estavam à esperam que o sinal ficasse vermelho. Nessa altura, obrigaram-nos a sair do carro e levaram as outras pessoas. Comigo, andaram a dar voltas pela cidade».

A situação é tão grave, que milhares de brasileiros saíram às ruas para protestar contra a violência de São Paulo.

Andriolo, um publicitário, teve que suportar a coacção física dos seus raptores. Cinco horas depois, abandonaram-no num descampado fora da cidade. No fundo, Andriolo teve sorte por não engrossar a cifra de 25 assassínios diários que são sintoma da cidade mais violenta da América do Sul.

O El País diz ainda que «as cifras apontam que o medo entre a população tem uma base concreta»: «a maior parte das mortes em São Paulo são provocadas por armas de fogo e o número de sequestros na cidade é de 90 por mês». O jornal faz as contas e descreve este cenário aterrador: em cada oito horas alguém é sequestrado. A polícia, por seu turno, alega que a mediatização da violência é a que espalha o medo. O El País contesta a opinião com estatísticas, números, dados. Os homens entre os 20 e 19 anos são os que mais possibilidades têm de morrer pelas armas de fogo, vinte vezes mais do que as mulheres.

As pessoas vivem uma situação de stress tão extrema que em São Paulo as depressões dispararam. «No momento em que o cidadão é afectado pela violência e perde a confiança no mundo que a rodeia relaciona-se de duas maneiras: ou com agressividade ou impedido de fugir, deprime-se», diz uma psicóloga contactada pelo El País.

Os vizinhos organizaram-se e todos têm os telefones uns dos outros caso observem algo de estranho na rua. «E não se trata de evitar que te roubem, trata-se de evitar que te matem», diz uma mulher.

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