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Viana: estórias de miséria e droga

Numa cidade em reconstrucção. A vida de quem mora em casas degradadas (Fotos)

Entre as 140 casas degradadas do Centro Histórico de Viana do Castelo, a de Aníbal Macedo, porventura, a que se encontra em pior estado, é no entanto o «indispensável» para muitos dos sem-abrigo da cidade.

Aníbal Macedo, 46 anos, reformado há oito, é inquilino do nº 38 da Travessa do Hospital Velho, a «dois passos» da praça principal da cidade, onde (sobre)vive em condições verdadeiramente degradantes, sem quaisquer condições de higiene.

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A casa não tem água nem quarto de banho. As paredes estão pretas da humidade e o tecto ameaçar ruir a todo o momento. Chove lá dentro e o frio é de rachar. Volta e meia, aparecem ratos e pulgas. O cheiro é pestilento.

Apesar de tudo isto, e porque como diz, gosta de ajudar os outros, Aníbal Macedo todos os dias abre as portas do seu lar, acolhendo outras pessoas que, apesar de tudo, «ainda vivem pior» que ele, por não terem um «refúgio» onde pernoitar ou, simplesmente, onde matar o tempo.

«Se sair daqui, vou para onde? Para debaixo da ponte?»

Órfão de pai e mãe e a receber uma reforma de 225 euros mensais, Aníbal Macedo paga 8,5 euros de renda e garante que não sai daquela casa «por nada deste mundo».

«Com a minha reforma, se sair daqui, vou para onde? Para debaixo da ponte?», pergunta.

Autarquia quer recuperar centro histórico

Há cerca de seis anos, o Gabinete Técnico Local (GTL) da Câmara de Viana do Castelo inventariou 320 casas degradadas no Centro Histórico da cidade, um número que actualmente, e segundo o presidente da autarquia, o socialista Defensor Moura, se cifra em 140, ou seja, menos de metade.

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Defensor Moura sublinha as vantagens que os proprietários têm em avançar com obras de recuperação, exemplificando com as que estão em curso num imóvel na Rua do Poço.

Estas obras, avaliadas em 106 mil euros, decorrem ao abrigo do programa «Recria» e serão comparticipadas em 56.800 euros pelo Estado, através do Instituto Nacional de Habitação.

A Câmara de Viana do Castelo contribui com 37.900 euros e elabora o projecto, através dos arquitectos do GTL.

Senhorio investe mas pode aumentar rendas

«O senhorio apenas despende um pouco mais de 11 mil euros», sublinhou o autarca, em forma de incentivo e de apelo aos proprietários de edifícios degradados no Centro Histórico da cidade para avançarem com a respectiva recuperação.

Além disso, após as obras, os senhorios podem também aumentar as rendas, como vai acontecer na referida intervenção na Rua do Poço, em que o valor a pagar mensalmente pelos inquilinos vai passar de 91 para 261 euros.

«Obras queria e precisava, mas aumentarem-me a renda é que não»

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«Obras queria e precisava, mas aumentarem-me a renda é que não», contrapõe Aníbal Macedo, enquanto trata da panela que tem ao lume no velho e decrépito fogão, a preparar um arroz com grelos e um «cheirinho a bacalhau» para ele e para os seus três «hóspedes» do momento.

Francisco Silva tem 52 anos de idade, vive sozinho e, por isso, volta e meia vai até casa de Aníbal, onde mata o tempo com duas de conversa.

«Pelo menos aqui não me sinto só», refere este antigo calceteiro, que agora é beneficiário do Rendimento Social de Inserção, depois de ser obrigado a abandonar a arte por «não aguentar mais da coluna».

Adelino Antunes, 38 anos, e a companheira pernoitaram na casa do Aníbal mas, no final do almoço, vão «rumar» até ao seu refúgio «oficial», um outro imóvel, degradado e devoluto, situado na Rua Emídio Navarro, bem junto aos Bombeiros Voluntários, igualmente em pleno Centro Histórico da cidade.

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