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Tolerância zero nas florestas

PDiário: Falta de limpeza das matas, negligência na realização de queimadas e incumprimento das distâncias legisladas para a construção de povoados deixam matas à mercê das chamas. Populares falam em fogo posto, mas apenas 20 por cento são de origem criminosa

«Isto é fogo posto», ouve-se na voz desesperada de um popular que vê as chamas atacarem o pedaço de terra que herdou do pai. «O avião passou aqui, e isto começou a arder. Ou então foi o homem da moto. Está sempre a rondar nesta zona. Tem um ar suspeito».

Com o fogo, e o ambiente de terror vivido durante dias a fio, a população ameaçada desenvolve uma visão paranóica do cenário. A mesma motorizada duas vezes no mesmo local deixa uma população desconfiada em pânico.

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As «famosas» bolas de fogo, que as populações descrevem por altura dos incêndios, não são assim mais do que a mera consequência da intervenção dos meios aéreos no local, que acabam por levar consigo partículas que originam ignições noutras zonas, explica ao PortugalDiário um técnico florestal do Ministério da Agricultura.

Os ministérios da Administração Interna e Agricultura, em diversos documentos oficiais, não têm dúvidas da causa das ignições: são os comportamentos negligentes, as queimadas de lixo que contém material inflamável, a falta de limpeza das matas e zonas contíguas - uma obrigatoriedade da lei sistematicamente esquecida -, as atitudes insensatas como a existência de fardos de palha junto às habitações e o recurso apenas a água neste combate, seja por terra ou por ar.

Dados da Polícia Judiciária, avançados pelo Diário de Notícias, contradiz a opinião geral dos portugueses: apenas 20 por cento dos incêndios registados este ano em Portugal tiveram como origem o fogo posto.

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Ao PortugalDiário, o mesmo especialista não tem dúvidas: o desmazelo e a incúria são o principal factor para as ignições sobretudo para os reacendimentos.

Cada incêndio dá origem, em média, a quatro novos incêndios, afirma o técnico que acrescenta a este drama o tempo quente, a falta de humidade e chuva. As partículas incandescentes projectadas são, neste cenário, uma das causas mais comuns para as chamas, obrigando bombeiros a distribuir-se em mais do que uma frente de fogo.

Ao PortugalDiário, o engenheiro florestal atira com os dados empíricos que recolhe no terreno há mais de cinco anos: «vi queimadas em lixeiras, que contém embalagens de cola e de verniz. Os industriais preferem deitar fora as latas em vez de as colocarem no ecoponto. Porque no ecoponto são obrigados a declarar o lixo que ali depositam, e o trabalho que realizaram na fábrica não foi declarado aos impostos...» Ou seja, com o cruzamento de dados - entre a Direcção-Geral de Impostos, recolhendo guias de informação das fábricas, num raio de dez quilómetros do local onde se verificou um incêndio, e o trabalho que realmente produziram mas não declaram - seria possível chegar ao dono da lata que provocou o incêndio.

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Um exemplo que este técnico florestal espelha em diversas situações, como a da limpeza das matas, cumprimento das distâncias entre povoados e floresta e ainda no ordenamento do território, impedindo que construções dispersas, com pequenas zonas verdes no seu interior, fiquem à mercê das chamas, sem locais de passagem apropriados nem abastecimento de água nas proximidades.

A quase inexistência da agricultura e o êxodo do interior para as cidades dão lugar a uma floresta não vigiada, não cuidada, prestes a arder.

A «falta de coordenação», diz a mesma fonte, é outro grave problema que obriga ao uso de mais recursos do que o necessário. No passado fim-de-semana, na Várzea, o PortugalDiário acompanhou o incêndio que atacou esta localidade. A área envolvida indicava, pelos métodos operacionais correntes, a utilização de apenas um helicóptero. Três meios aéreos rasgaram, durante toda a tarde, os céus do concelho de Santa Maria da Feira. No entanto, nenhuma brigada terrestre garantia o rescaldo com ferramentas. A água serviu para apagar o fogo. E garantir o reacendimento. No domingo, o Serviço Nacional de Protecção Civil alertou para novo incêndio na mesma zona.

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