PUB
Luís Horta e Costa responsabiliza a administração do Grupo Espírito Santo, sobretudo Ricardo Salgado, pela venda da ESCOM à Sonangol, que não veio a confirmar-se. No entanto, admite que o negócio era «uma boa notícia» para esta empresa do GES.
«Todas as negociações não são feitas pela administração, são feitas pelos acionistas. Aquilo que eles decidem, muitas vezes, a administração desconhece. Segundo nós sabemos, houve um contrato assinado a 28 de dezembro de 2010 com uma empresa que, para mim, representava a Sonangol [referia-se à Newbrook]. Na administração da ESCOM, víamos como uma boa notícia que a Sonangol entrasse no capital da ESCOM».
«Ricardo Salgado tentou, convictamente, vender a ESCOM. Fez tudo o que podia e o que não podia. Acreditou que ia vendê-la, até certa altura, em que foi apanhado por certas surpresas que não conhecia, ou calculou mal, em relação ao BESA. E aí o negócio deixou de ser a ESCOM para ser outra coisa qualquer».
PUB
«Não estamos a sacudir a água do capote. Já vi isso aqui e já chega»«Era uma situação complicada, porque achávamos que a empresa teria sido vendida. Tivemos dificuldades porque, depois do contrato, entrámos em gestão corrente, não podíamos fazer nada. Até ao dia em que acordámos com o nosso acionista maioritário [o GES] desaparecido em combate, tendo implodido, tínhamos esperança que alguma coisa acontecesse. Fosse a Sonangol, fosse a Newbrook…»
De acordo com um documento do Banco de Portugal, o valor de venda era de 483 milhões de dólares. Horta e Costa assegurou que os administradores da empresa não fizeram esta avaliação, nem concordavam com ela. «Tínhamos consciência do valor e potencial da ESCOM. Não achávamos ideal, dado as dificuldades do GES, haver prémios de controlo em cima de uma avaliação já de si difícil de sustentar. Era esticar a corda. Achávamos uma coisa um bocadinho salgada», ironizou, levando a risos na sala.
PUB
Essa avaliação foi feita pelo BESI, a pedido da Rioforte. A ESCOM terá então passado da ES Resources para a Rioforte. Depois, mais tarde, a empresa «voltou para a ES Resources» e ia ser vendida à Sonangol através do «veículo» Newbrook.
Mais tarde, Luís Horta e Costa fez novas críticas a esta avaliação feita pelo BESI.
«Não gostámos muito da maneira como a avaliação apareceu feita e as áreas de negócios a que era atribuída. Estavam a avaliar a ESCOM em cerca de 900 e tal milhões dólares nessa altura e havia um passivo de 300 milhões. A nós [administração da ESCOM] parecia-nos um bocadinho difícil. Teria dificuldade em defender este número aos novos compradores, mas nunca os vi».
«A gestão da ESCOM foi responsável numa coisa. Talvez tenhamos dado passos maiores do que as pernas e talvez tenhamos sido demasiado ambiciosos nos investimentos que fizemos em África».
Não recebe salário desde agosto
PUB
Mais tarde, durante a audição, o administrador da ESCOM insistiu que a empresa «continua a trabalhar em Angola», ainda que com «graves dificuldades» em pagar salários aos 1200 trabalhadores.
«Nós ainda estamos vivos e continuamos a pagar salários em Angola. Já a mim, devem-me salários desde agosto», ou seja, desde a medida de resolução que terminou com o BES.
Na mesma audição no Parlamento, Luís Horta e Costa explicou o negócio dos submarinos e a distribuição de 27 milhões de euros em prémios, admitindo que a ESCOM montou um «puzzle financeiro» para «aproveitar» uma amnistia fiscal.
Sobre o colapso do GES, o administrador da ESCOM não acredita que tenha sido culpa «de um só», ou seja, apenas de Ricardo Salgado.
PUB