Para o economista e antigo ministro das Finanças José Silva Lopes, o empréstimo do FMI e da UE - no montante de 78 mil milhões de euros - é «largamente insuficiente», sendo preciso «mais dinheiro» por parte da União Europeia.
«A União Europeia tem de arranjar novos esquemas para apoiar países em dificuldades, nomeadamente Portugal», disse o catedrático durante a conferência «E depois da troika?», a decorrer em Lisboa.
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«Se a União Europeia não nos emprestar mais dinheiro, se continuar a acreditar que os mercados vão resolver o problema, estamos arrumados. Eu não acredito que os mercados resolvam o problema, pelo contrário, vão agravá-lo».
Então o que se pode fazer? «A criação de eurobonds [títulos de dívida pública europeia] é fundamental», defendeu o antigo ministro.
Além disso, «seria necessário que a UE aumentasse o orçamento comunitário para mais de 1% do PIB dos países», explicou Silva Lopes à margem da conferência.
Vem aí «longa» e «dolorosa» estrada
Já sobre o imposto extraordinário, anunciado por Passos Coelho na semana passada e que incidirá sobre o equivalente a uma parte do subsídio de Natal, Silva Lopes foi categórico: «É apenas o começo de uma longa e dolorosa estrada».
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Uma estrada que, a partir do próximo ano, está enublada: «Até 2012 não tenho preocupações. Depois tudo dependerá dos mercados», revelou Silva Lopes, não fechando a porta à necessidade de um segundo resgate a Portugal, à semelhança do que acontece hoje com a Grécia.
Uma coisa é certa, comparando Portugal à Grécia só há uma vantagem para o nosso país: «Somos melhores nas finanças públicas». De resto, «somos iguais à Grécia, ou mesmo piores».
«Em relação ao endividamento externo e ao sector privado somos piores do que os gregos», continuou Silva Lopes.
Apesar do «acordo com a troika ter sido absolutamente necessário», há um risco «muito alto e perigoso» de contágio com a crise grega.
«Não tenhamos dúvidas. Se acontecer alguma coisa à Grécia, vamos logo a seguir».
Por isso, Portugal tem de «cumprir os objectivos», mas está dependente ainda de outro aspecto externo: «A União Europeia tem de arranjar uma solução para isto. Até agora, tem empurrado os problemas e não mostra nenhuma vontade de os resolver», disse Silva Lopes.
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Até lá, «Portugal vai ser um país ainda mais desigual. Vão haver muitas dificuldades», com o consumo privado a cair 7,1% até 2016, de acordo com os números apresentados por Silva Lopes, citando projecções do FMI e da UE.
Projecções essas «assentes num milagre das exportações», algo sobre o qual Silva Lopes se mostrou muito céptico.
[Notícia actualizada às 15h40 com mais declarações]
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