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Joaquim Goes era um dos 10 membros da comissão executiva do Banco Espírito Santo e responsável pela gestão de risco, mas afirmou esta segunda-feira que não soube das «operações irregulares» que aconteceram no banco e que foram conhecidas no final de julho, altura da derrocada do BES. Estiveram fora do seu «radar».
«Aquilo que se passou no banco e aquilo que levou aos resultados do primeiro semestre, tem a ver essencialmente com duas dimensões: a problemática do GES e a situação de insolvência das empresas; e as tais operações irregulares que aconteceram e que foram conhecidas no final de julho de 2014». «Eu não tinha conhecimento dessas operações»
«Se porventura» houve operações «de forma irregular ou por um conjunto de pessoas», elas «não estavam nos sistemas do banco, nem no radar do risco»
Antes, na sua intervenção inicial, o ex-administrador executivo do BES tinha referido que «as cartas de conforto não eram do conhecimento da maioria dos membros da comissão executiva». «Entre as quais eu próprio», assinalou. Estas cartas foram passadas BES à petrolífera venezuelana PDVSA e resultaram em elevadas imparidades ao banco no primeiro semestre de 2014. Depois disso, foi o fim.
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Daí que, quando interpelado por Miguel Tiago (PCP), disse que não ia estar a tecer «considerações específicas» sobre uma matéria está a ser investigada e da qual alega não ter tido conhecimento. Isto depois de o deputado comunista ter recordado o papel de Goes na blindagem exigida pelo Banco de Portugal, o chamado ring fencing.
«É preciso ver quem fazia essas operações, mas não é um tema que fosse claramente discutido», afirmou. Mais à frente, já em resposta a Mariana Mortágua (BE), o ex-administrador não executivo do BES, responsável pela avaliação de risco do BES a partir de maio de 2012 e, antes disso, em parceria com José Maria Ricciardi, referiu que, «se porventura» houve operações, «de forma irregular ou por um conjunto de pessoas», elas «não estavam nos sistemas do banco, nem no radar do risco».
Goes quis assegurar aos deputados, logo à partida, que fez tudo o que estava ao seu alcance para salvaguardar os interesses do banco e dos seus clientes: «Tentei exigir até ao limite compromissos assumidos pelo banco», indicou. Entre meados de junho e julho, as negociações foram «particularmente intensas», tendo Goes participado, até, de forma «excecional» em reuniões da Espírito Santo Financial Group.
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Perante as «dificuldades visíveis» do GES, estavam a identificar-se «práticas de incumprimento». No entanto, quanto à exposição do BES ao GES, até setembro de 2013, estava tudo bem. O Banco Espírito Santo não detinha uma exposição direta «significativa» ao grupo.
«Até setembro de 2013, o BES não detinha uma exposição direta significativa ao Grupo Espírito Santo (GES), não existindo mesmo qualquer relação creditícia direta com a Espírito Santo Internacional (ESI). Desta forma se explica porque não existia, nem tinha de existir, um acompanhamento próximo da realidade da ESI por parte do BES, nomeadamente pela área de risco»
A «mão invisível» virada do avesso
Da sua parte, Goes assegura que procurou «sempre» - «e até ao limite das [suas] capacidades», uma «cooperação estreita, permanente e real com o regulador», o Banco de Portugal, bem como com , membros do BES e da sua administração.
No início da segunda ronda, Mariana Mortágua (BE) disse que, decorridas já várias audições, o que consegue constatar é uma «mão invisível» de Adam Smith sobre o caso BES/GES, mas ao contrário: «Toda a gente faz o melhor de si, mas o resultado final é o pior possível. Ninguém assume responsabilidades, é inacreditável».
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Sobre o BESA, logo na sua intervenção inicial, referiu-se aos «graves problemas» que existiam com o banco angolano, mas salientou que a atribuição de créditos, no valor de 5,7 mil milhões de euros - processos normalmente decididos em conselhos de crédito - foi uma «opção» do banco, decidida pela comissão executiva, sem pareceres prévios ou avaliação de risco. Comissão essa presidida por Ricardo Salgado.
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