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Juros da dívida: «Cena vai repetir-se 46 vezes este ano»

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Economista João Duque diz que leilão de quarta-feira não foi «dia D», mas sim o «dia A» que vai até à letra Z

O economista João Duque desvalorizou ontem, quinta-feira, o leilão da dívida portuguesa realizado no dia anterior.

«A cena a que assistimos ontem [quarta-feira] vai repetir-se semana após semana. A necessidade de financiamento é de 46 mil milhões de euros. Ontem, o problema era de 1.250 [milhões de euros], ou seja, a cena vai repetir-se 46 vezes. O ano vai ser isto», antecipou o também presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), na conferência «Diálogos com a Ciência», organizada pela Universidade do Porto.

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João Duque não percebe por que chamaram à primeira colocação da dívida do ano «dia D». «Devia ser o 'dia A' e vai-se passar à letra Z».

Investimento público vai «encravar» ainda mais economia

Para o economista, «o maior responsável pelo desequilíbrio [financeiro] é o Estado». Houve, diz, um problema de construção de infra-estruturas, que «pareceu um modelo de sucesso» e «pegou-se ao mais pequeno nível».

«Ficámos um país vocacionado para a construção de infra-estrutura, mesmo quando já era excessiva». João Duque critica assim a manutenção de «projectos que são de cortar o coração», como o novo aeroporto de Lisboa e a rede ferroviária de alta velocidade.

«O investimento público - que é invocado como uma forma de puxar a economia - vai encravar mais a situação».

João Duque mostrou-se «preocupado ao ouvir os governantes falar na existência de vários projectos que do meu ponto de vista são fonte de empobrecimento e não de enriquecimento. Aquilo em que se gasta não tem retorno». «O problema está na riqueza que se gera com o endividamento, que ou vai para consumo ou investimento sem retorno».

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Problema de Portugal é político

O ex-ministro das Finanças Campos e Cunha defendeu, no mesmo encontro, que «os nossos problemas económicos, o nosso beco sem saída, são resultantes das regras políticas». Daí que defende a alteração das regras do sistema político e do financiamento dos partidos, que vivem numa «situação de quartelização».

«Outra forma de evitar a entrada no mercado da política é pagar mal. Se entrassem pessoas muito boas, eles [os políticos] estariam em causa». Para além disso, «quando se paga amendoins, obtém-se pessoas de má qualidade».

Para o economista, «o financiamento dos partidos deve ser exclusiva ou basicamente público»; «sai caro, mas a alternativa são os lobbies, o compadrio, os favores».

«Prefiro pagar bem a um ministro, porque sai muito mais caro se pagar mal», afirmou Campos e Cunha, que defendeu que os gestores das empresas públicas deviam «passar por um escrutínio: não uma discussão política, mas uma discussão técnica».

Sobre a ideia de que Portugal possa vir a sair do euro, o ex-ministro das Finanças afirmou que «nem o euro está em perigo nem Portugal precisa de sair do euro nem pode ser expulso». Se a moeda única desaparecesse, era uma bagunça gigantesca, a anarquia total, e se Portugal [deixasse a união monetária] era o colapso dos bancos e do sistema financeiro português».

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