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Rating: ex-funcionários pressionados para «dourar» notações

Algumas casas de notação financeira, como a Moody`s, faziam depender o salário e a evolução na carreira com a quota dada pelo analista

A comissão norte-americana de inquérito à crise financeira ouviu esta quinta-feira vários ex-funcionários de agências de rating queixarem-se de terem sofrido pressões do empregador para «dourar» a classificação de alguns produtos financeiros.

No caso de Eric Kolchinsky, antigo director da unidade da Moody`s que classificava obrigações estruturadas no mercado imobiliário de alto risco ( subprime), a pressão resultava do facto de a sua carreira na empresa e de o seu salário dependerem da quota de mercado.

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Actualmente, uma agência é paga directamente pelos emissores de títulos financeiros, que podem optar pela concorrente, se esta oferecer melhor classificação.

Um antigo vice-presidente da mesma agência, Mark Froeba, referiu vários casos de intimidação e mesmo de substituição de analistas por insatisfação dos banqueiros clientes dos ratings.

O resultado foi a criação de «uma população dócil de analistas com medo de perturbarem os banqueiros de investimento», disse Froeba, citado pela Lusa.

Um ex-director da Moody`s, Gary Witt, questionou a capacidade de a agência assegurar a correcção dos seus ratings antes da crise de 2008, enquanto o ex-presidente Brian Clarkson disse que a integridade dos analistas da agência era «inquestionável» e sugeriu que a comissão se debruçasse sobre o papel dos corretores e subscritores dos produtos financeiros em causa.

O pagamento das agências é «odioso»

A audição de hoje surge numa altura em que em Washington se prepara a versão final da nova legislação do sector financeiro, que vai alterar o modelo de negócio das agências de rating como a Moody`s, Standard&Poor`s ou Fitch, que muitos observadores consideram de dependência face aos seus clientes.

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O testemunho mais aguardado do dia era, provavelmente, o do decano investidor Warren Buffett, presidente da firma de investimento Berkshire Hathaway, que ainda é dos principais accionistas da Moody`s, apesar de ter vindo a reduzir a sua participação.

Antes de ser ouvido, o investidor conhecido como «oráculo de Omaha» pelos seus palpites certeiros, deu várias entrevistas às principais cadeias de televisão norte-americanas, em que se distanciou das agências afirmando que deixaram de ser um investimento atraente, mas também defendeu a sua actuação antes da crise financeira.

A responsável pela crise? As agências de «rating»

As classificações máximas (AAA) atribuídas a títulos estruturados no mercado subprime, que foram rapidamente reavaliados como «junk» («lixo») após o eclodir da crise, resultaram da euforia no mercado imobiliário, disse Buffett.

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O esquema de pagamento das agências é «odioso», disse, mas não há nenhum melhor em vista. «Não digo que este seja o modelo perfeito. Digo apenas que é difícil pensar numa alternativa em que sejam os utilizadores a pagar. Eu não vou pagar», adiantou Buffett.

Quanto à alternativa em cima da mesa - um modelo de selecção aleatória da agência que vai classificar determinado produto -, Buffett mostrou-se céptico.

Juntamente com Buffett testemunhou o presidente da Moody`s, Raymond McDaniel, também defensor do actual modelo de remuneração. «Acreditámos que os ratings eram a nossa melhor opinião na altura que os atribuímos», afirmou.

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