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Não só existiam «vários tipos de interessados» na recapitalização privada do Banco Espírito Santo, como a recapitalização pública não era um cenário em vista. Nem a resolução que veio a dividir o banco. Para o ex-administrador financeiro Moreira Rato, que integrou a equipa de Vítor Bento em julho de 2014 (o mês do colapso), o BES podia ter sobrevivido, pese embora a ameaça de retirada do estatuto de contraparte por parte do Banco Central Europeu, um argumento invocado pelo Banco de Portugal para ter avançado pela terceira via.
Carlos Costa utilizou esse argumento para defender a resolução«Estávamos a trabalhar no sentido de uma recapitalização privada (…) Segundo os nossos advogados, o processo podia durar cerca de dois meses». «Já aconteceu, na Europa, bancos sobreviverem durante algum tempo sem o estatuto de contraparte»
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Hoje, Moreira Rato diz, nas entrelinhas, que o Banco de Portugal se precipitou. Três dias bastaram, assim, para que todas as perspetivas que a administração de Vítor Bento tinha, deixassem de existir. E quem mudou os planos foi o BdP. Rato não trouxe uma lista consigo, nem quis revelar nomes, mas garante que «existiam vários tipos de interessados» na recapitalização privada do banco. «Eram fundos e, que eu me lembre, alguns bancos, mas com menos interesse», assinalou, desta feita a Miguel Tiago (PCP), que, como outros deputados, insistiu em saber nomes desses interessados. Em vão, porque o ex-administrador fugiu sempre à resposta.
«A partir da segunda semana [de julho], era o nosso assessor financeiro Deutsche Bank que mantinha contactos regulares com os interessados. Foi preciso revisitar algum interesse, depois do dia 30 de julho». Houve vários contactos. Alguns deles permaneceram no banco», disse apenas, generalizando.
Miguel Tiago quis perceber se a administração do banco considerou «realista» que Banco de Portugal tivesse dado 48 horas para esse aumento de capital e qual teria sido a interação entre ambas as partes para decidir a via da resolução:
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«Disse-nos que no dia 1 de agosto foi informado da medida de resolução: alguma vez tinha ouvido falar da resolução?», perguntou o deputado. Hesitante, primeiro, Moreira Rato respondeu depois: «Pessoalmente, não conhecia, eu não conhecia essa medida». Miguel Tiago insistiu: «Ouviu falar alguma vez?». A resposta: «Não». «Antes disso, não tínhamos consciência que essa possibilidade existia».
Assim sendo, o Banco de Portugal não ouviu administração? «Não», respondeu. Apenas a aplicou.
Por outro lado, já sobre o rombo que levaram as ações do banco a seguir à divulgação dos resultados do primeiro semestre de 2014, Moreira Rato entende que «não havia razão» para suspender as ações do BES. Daí a administração não ter feito essa proposta à CMVM.
«Não havia razão para tal [suspender as ações]. Os resultados de que falou eram públicos. Tinham sido publicados dia 30 de julho. E os comunicados também eram públicos»
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Tal como o ex-administrador José Honório, ouvido na semana passada pelos deputados, também Moreira Rato afirmou que, ao chegar ao BES em julho de 2014, encontrou um banco bem diferente daquele que lhe tinham transmitido.
Os deputados tiveram alguma dificuldade em arrancar respostas muito explicativas do ex-administrador do BES e do Novo Banco. Moreira Rato repetiu muitas vezes as mesmas respostas para perguntas diferentes.
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