Portugal apresenta a melhor evolução do Produto Interno Bruto nominal, mas regista na execução é pior, já que tem um desempenho orçamental negativo. O balanço foi feito esta terça-feira pela economista chefe do BPI, Cristina Casalinho, durante o debate promovido pela Ordem dos Economistas, para discutir o caderno de encargos do próximo orçamento.
«Tudo aponta para um défice de 7,1 por cento no final do ano», melhor do que a previsão do Governo inscrita no PEC (de 7,3%).
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Mas os mercados vão estar atentos não só aos números, mas sobretudo à forma como se conseguiu lá chegar. «Todo o resultado orçamental é conseguido através do aumento da carga fiscal». Só que os mercados «olham muito mais para a qualidade e para a forma como são conseguidas as metas».
E se, por um lado, a receita cresceu 2,5%, a despesa também não ficou muito mais atrás e escalou 0,6%. Cristina Casalinho lembrou que os investidores internacionais «privilegiam o ajustamento pela via da redução da despesa».
Pode a actividade económica vir a acelerar no ano que vem? «Não vai ser assim. O andamento económico vai ser mais lento do que se esperava. Há uma forte pressão este ano para o cumprimento da execução orçamental». O país está já a pagar um prémio de risco muito elevado. «Paga mais do dobro da Espanha e pouco menos do que a Irlanda». Portugal e Irlanda têm «crescentes dificuldades e estão a ser pressionados pelo mercado». A taxa de juro a 10 anos é, recordou, de 6,4% para Portugal e de 4,25% para Espanha, «um diferencial que vem já do curto prazo». Ou seja, o «nível de dívida [portuguesa] é considerável e está em crescendo».
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«Financiamento do BCE não é ilimitado»
Para o balanço financeiro de Portugal o sector público é apenas uma parte do problema. «O privado também tem de fazer alguma coisa», uma vez que é «basicamente financiado pelo Banco Central Europeu». E aqui referia-se sobretudo ao sector financeiro.
Os bancos só podem ter acesso ao crédito se tiverem activos como garantias. «Mas isto tem um senão: a maior parte das garantias portuguesas são activos portugueses e quando as taxas de juro sobem, essas garantias diminuem». E o financiamento do BCE não é ilimitado. «Não é um elástico que se puxa indefinidamente».
Os bancos têm assim duas alternativas: ou vendem activos «numa conjuntura de mercado que não é favorável» podendo comprometer o financiamento futuro»; ou optam pela contracção do crédito.
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