Os adolescentes filhos de doentes com cancro sofrem sintomas de stress pós-traumático e de problemas emocionais, cognitivos e de comportamento, revela um conjunto de estudos apresentados esta quarta-feira na Conferência Europeia do Cancro (ECCO 14), em Barcelona, escreve a Lusa.
Apesar de existirem estudos sobre os efeitos psicológicos causados por um cancro no doente e no cônjuge, esta é a primeira vez que se analisam os sintomas de stress pós-traumático (PTSS, na sigla em inglês) em filhos adolescentes de pacientes.
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Nem todos os doentes com PTSS desenvolveram efectivamente stress pós-traumático, mas os sintomas originavam mais tarde problemas emocionais, como insociabilidade, doenças físicas, ansiedade ou depressão, e problemas de comportamento como acções agressivas ou de conflito.
Os problemas de comportamento nos adolescentes com mais PTSS eram evidentes no princípio do estudo, mas tendiam a desaparecer com o passar do tempo, enquanto que os problemas emocionais pareciam persistir.
Num dos estudos, dirigidos por Gea Huizinga, investigador do Centro Médico Universitário de Groningen, na Holanda, foi examinada a prevalência dos PTSS e dos problemas emocionais e de comportamento em 49 adolescentes durante o primeiro ano após o diagnóstico de cancro num dos seus pais.
As crianças e cada um dos pais em separado responderam a um questionário em três ocasiões, aos quatro meses após o diagnóstico, aos seis e aos 12 meses.
Foi detectado que 29 por cento dos adolescentes apresentavam níveis de PTSS clinicamente elevados e precisavam de ajuda psicológica após o diagnóstico.
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A proporção de entre eles que sofria de sintomas baixou 16 por cento na segunda avaliação e cerca de 14 por cento na terceira.
Os níveis de PTSS logo após o diagnóstico do progenitor foram comparáveis aos revelados por adolescentes entrevistados entre um a cinco anos após o diagnóstico do progenitor num outro estudo realizado pela equipa holandesa.
«Juntos, estes estudos sugerem que os PTSS relacionados com o cancro de um dos pais flutuam no tempo, reduzindo-se durante ao primeiro ano após o diagnóstico e reaparecendo nos anos seguintes», sugere Gea Huizinga.
Um dos resultados mais importantes de um último estudo referia-se à consciência dos pais sobre a magnitude do efeito nos filhos do cancro num progenitor, constatando que os pais consideram que as crianças com níveis mais graves de PTSS tinham menos problemas a nível emocional, cognitivo e de comportamento do que os declarados pelos próprios adolescentes.
«Os resultados poderiam indicar que os progenitores doentes, e sobretudo o seu parceiro, subestimam o nível de problemas emocionais e de comportamento das crianças com sintomas mais graves de PTSS», considera Gea Huizinga.
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Apesar da sua própria doença, o pai com cancro era, mesmo assim, mais capaz de detectar a angústia dos filhos com distúrbios especialmente graves.
O cônjuge do doente tendencialmente não observava nenhum problema nos seus filhos durante o período imediatamente a seguir ao diagnóstico, mas começava a detectar dificuldades no ano seguinte.
«Parece que os progenitores doentes são mais capazes de avaliar a situação», explica Huizinga, acrescentando que «podem estar mais atentos do que os seus cônjuges às mudanças de comportamento dos seus filhos devido a um sentimento de culpa pela sua própria doença».
O estudo também descobriu que os filhos com mais PTSS tinham mais problemas emocionais e de comportamento e vice-versa, o que sugere que as crianças que já têm problemas psicossociais têm mais dificuldade em assumir o cancro do seu progenitor do que as crianças com um bom desenvolvimento psicossocial.
Os sintomas de stress pós-traumático incluem recordações recorrentes e desagradáveis que provocam angústia, assim como evitar pensamentos, sentimentos ou conversações negativas.
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