Já fez LIKE no TVI Notícias?

Barómetro de Notícias: Somos mesmo todos da classe média?

Há semanas em que as notícias se centram sobre personalidades, seja sobre um Jorge Jesus, um Sócrates ou um Durão. Há outras em que parece que os temas nos tocam a nós todos. A semana passada foi um misto desses dois tipos

Nesta semana o Orçamento de Estado para 2017 e as negociações do Governo com o PCP e o Bloco de Esquerda tiveram um elevado destaque. Igualmente, o futebol do Sporting em Madrid e as declarações de Jorge Jesus, a par de José Sócrates e Durão Barroso fizeram também a semana.

Desde que a Troika aterrou em Portugal há cinco anos que passámos a olhar para os orçamentos de Estado de forma diferente. Deixaram de ser "coisas de políticos" para serem discutidos entre "eles" e passaram a ser um novo tipo de lista de compras para pendurar na porta dos nossos frigoríficos - para não nos esquecermos das coisas importantes. Os orçamentos de Estado passaram a ser parte do quotidiano dos eleitores e não apenas do quotidiano dos eleitos.

PUB

Com os anos da crise e da intervenção estrangeira em Portugal percebemos, que as decisões de cortes, ou não cortes, nos salários ou impostos não eram pormenores irrelevantes, pelo contrário tinham tudo a ver com o nosso quotidiano, da água e luz até aos transportes, passando pela nossa saúde, pelo nosso salário e pela escola dos nossos filhos.

Como o estudo apresentado esta semana pela Fundação Francisco Manuel dos Santos aponta,  "os portugueses perderam entre 2009 e 2014 em média 116 euros mensais, uma quebra que afetou especialmente os mais pobres (...) de 2009 a 2014 os rendimentos dos portugueses tiveram uma quebra de 12% (...) os 10% mais pobres perderam 25% por cento do rendimento enquanto os 10% mais ricos apenas perderam 13%."

Politicamente esta semana pode ser resumida pela proposta negociação entre PS e BE para tributar o património imobiliário não consagrado a arrendamento, produção de bens ou prestação de serviços de valor superior a 500 mil euros. E, paralelamente, pela crítica do CDS-PP à proposta como um ataque à classe média e às preocupações expressas pelo PSD sobre este tipo de medidas, como um último e desesperado meio de impedir um hipotético resgate - tudo isto acompanhado pelo pedido do Presidente da República para que não se aborde publicamente matérias hipotéticas e prejudiciais para o país.

PUB

A polémica da semana leva-nos a discutir se 500 mil euros de propriedades configura ou não a pertença à classe média? A resposta será sempre um "Nim" pois tudo depende de onde nos posicionamos para fazer a análise. De certeza que 500 mil euros de imobiliário num casal não os posiciona nos 10% mais pobres e, também, não os coloca nos 10% mais ricos, pois dentro dessa categoria há uma infinidade de subcategorias até chegarmos aos 1% dos portugueses mais ricos e que fazem as listas anuais daqueles com maiores fortunas.

Na realidade usa-se e abusa-se do conceito de classe média, porque o conceito é, na maior parte das vezes, adaptado às circunstâncias políticas. Quando se pretende politicamente generalizar diz-se "classe média" quando se pretende segmentar usa-se "classe média baixa", "classe média alta", etc.

E Durão, Sócrates e Jesus, serão classe média? Na realidade não foi esta a pergunta que motivou a atenção noticiosa sobre estas três personagens. Jorge Jesus é atualmente um treinador celebridade, ou seja, reparte com os seus jogadores a atenção pública. Já quanto a Durão Barroso, o desgaste da sua imagem pública pela opção de se tornar membro do banco Goldman Sachs teve um novo episódio com o retirar das prerrogativas de ex-Presidente da Comissão Europeia pelo atual Presidente Juncker. E, por fim, José Sócrates voltou a ser notícia com a ajuda do Juiz Carlos Alexandre e da sua entrevista polémica que deu azo a todas as teorias, desde que as suas declarações foram produto da inexperiência mediática até à teoria de que pretende livrar-se rapidamente desse processo porque não quer ficar associado a eventuais falhas que levem à falta de acusação de José Sócrates - cujo prazo do processo foi de novo estendido.

PUB

Já nas redes sociais, sabemos que está lá a maioria da classe média portuguesa e nesta semana o sentimento das opiniões expressas indicam que a semana foi ótima para Marcelo Rebelo de Sousa, menos boa para Costa e bastante negativa para Catarina Martins, Passos Coelho e Assunção Cristas.

Ficha técnica:

O Barómetro de Notícias é desenvolvido pelo Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL como produto do Projeto Jornalismo e Sociedade e em associação com o Observatório Europeu de Jornalismo. É coordenado por Gustavo Cardoso, Décio Telo, Miguel Crespo e Ana Pinto Martinho. A codificação das notícias é realizada por Rute Oliveira, João Lotra e Sofia Barrocas. Apoios: IPPS-IUL, Jornalismo@ISCTE-IUL, e-TELENEWS MediaMonitor / Marktest 2015, fundações Gulbenkian, FLAD e EDP, Mestrado Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, LUSA e OberCom.

Análise de conteúdo realizada a partir de uma amostra semanal de 413 notícias destacadas diariamente em 17 órgãos de comunicação social generalistas. São analisadas as 4 notícias mais destacadas nas primeiras páginas da Imprensa (CM, PÚBLICO, JN e DN), as 3 primeiras notícias nos noticiários da TSF, RR e Antena 1 das 8 horas, as 4 primeiras notícias nos jornais das 20 horas nas estações de TV generalistas (RTP1, SIC, TVI e CMTV) e as 3 notícias mais destacadas nas páginas online de 6 órgãos de comunicação social generalistas selecionados com base nas audiências de Internet e diversidade editorial (amostra revista anualmente). Em 2016 fazem parte da amostra as páginas de Internet do PÚBLICO, Expresso, Observador, TVI24, SIC Notícias e JN. 

PUB

Últimas