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Estudo associa complicações na gravidez a risco acrescido de morte precoce - mesmo décadas mais tarde

As cinco principais complicações na gravidez são o diabetes gestacional, parto prematuro, bebés com baixo peso à nascença, pré-eclampsia e outras perturbações relacionadas com a tensão arterial elevada. O estudo em causa revelou que todas elas podem conduzir a risco acrescido de morte prematura das mães numa fase posterior

As complicações na gravidez, como a diabetes gestacional ou a pré-eclampsia - pressão alta durante a gravidez -, podem estar associadas a um risco elevado de morte mesmo décadas após o parto, de acordo com um novo estudo.

A investigação, publicada na revista JAMA Internal Medicine, concluiu que as mulheres que sofreram complicações graves durante a gravidez tinham um risco acrescido de morte precoce e que esse risco se mantinha elevado durante mais de 40 anos.

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“Os efeitos adversos da gravidez podem levar a pequenas alterações fisiológicas que são inicialmente difíceis de detetar, tais como inflamação ou outras anomalias em pequenos vasos sanguíneos. Estas alterações podem persistir ou progredir após a gravidez, conduzindo eventualmente a outros problemas de saúde que podem demorar anos ou mesmo décadas a aparecer", explica, por e-mail, Casey Crump, autor do estudo e professor no departamento de medicina familiar e saúde comunitária da UTHealth Houston.

“A gravidez oferece uma oportunidade chave para identificar mulheres de alto risco e iniciar intervenções numa fase mais precoce da vida, antes do desenvolvimento de outros problemas de saúde”, afirma Crump. “As mulheres que experienciaram complicações na gravidez precisam de um acompanhamento próximo com o seu médico de cuidados primários, a começar logo após o parto, para cuidados preventivos regulares para ajudar a reduzir esses riscos e proteger a sua saúde a longo prazo.”

Cerca de 30% das mulheres têm episódios adversos na gravidez durante os seus anos reprodutivos, escreveram os investigadores no seu estudo.

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"Uma janela precoce para a saúde numa fase posterior da vida"

Os investigadores, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, em Houston, e da Universidade de Lund, em Malmö, na Suécia, analisaram dados de mais de dois milhões de mulheres que deram à luz na Suécia entre 1973 e 2015.

“Este estudo foi realizado na Suécia porque o seu sistema universal de cuidados de saúde recolhe dados a nível nacional que permitiram várias décadas de acompanhamento”, esclarece Crump. O autor acrescenta que o estudo “vai ter eventualmente de ser repetido noutras populações, incluindo nos EUA, onde os grupos minoritários podem potencialmente ter riscos ainda mais elevados do que os que foram encontrados na Suécia”.

Os investigadores analisaram atentamente quantas das mulheres incluídas nos dados sofreram uma das cinco principais complicações da gravidez: diabetes gestacional, parto prematuro, bebés com baixo peso à nascença, pré-eclampsia e outras perturbações relacionadas com a tensão arterial elevada. Também foi analisado o tempo de vida das mulheres após o parto. Os dados revelaram que mais de 88.000 mulheres tinham morrido e que as cinco complicações da gravidez estavam independentemente associadas a um maior risco de mortalidade numa fase posterior da vida.

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A nova pesquisa “lança luz sobre uma área em evolução - a associação de complicações na gravidez com riscos para a saúde a longo prazo”, considera, por e-mail, Ashley Roman, vice-presidente para os assuntos clínicos e chefe de obstetrícia da NYU Langone Health, que não esteve envolvida no estudo.

“Não é tanto que a gravidez cause ou aumente diretamente o risco destas complicações a longo prazo. A forma como explico isto às minhas pacientes é que a gravidez é um teste de stress que pode revelar uma predisposição para certas doenças mais tarde na vida", esclarece Roman. “Uma gravidez é suportada pela placenta, que cria hormonas e necessita de um rico fornecimento de sangue para fazer o seu trabalho corretamente. A forma como o corpo da mãe responde a estas hormonas e à vasculatura criada pela placenta é uma janela precoce para a saúde numa fase posterior da vida.”

"Foi surpreendente... mais de 40 anos depois"

As mulheres que sofreram qualquer uma das cinco complicações da gravidez tinham um risco 1,5 vezes maior de morrer até 46 anos após o parto, descobriram os investigadores, e que as que tiveram complicações múltiplas tinham um risco ainda maior.

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A diabetes gestacional foi associada a uma subida de 52% do risco de mortalidade, o parto prematuro a um aumento de 41%, dar à luz um bebé com baixo peso a um crescimento de 30%, a pré-eclampsia a um aumento de 13% e outras doenças hipertensivas a uma subida de 27%, mostraram os dados.

“Foi surpreendente o facto de todos os cinco principais efeitos adversos da gravidez estarem associados a um aumento dos riscos de mortalidade, mesmo mais de 40 anos após o parto”, diz Crump.

“Descobrimos que o aumento da mortalidade era atribuído a várias causas de mortes diferentes, incluindo doenças cardíacas, diabetes, doenças respiratórias e cancro”, enumera. “Isso sugere que existem vários caminhos subjacentes diferentes que vão precisar de pesquisas adicionais para identificar melhor”.

As cinco complicações da gravidez foram relacionadas a um risco 2,5 vezes maior de morrer de doenças cardiovasculares em comparação com as mulheres que não passaram pelos efeitos adversos na gravidez, de acordo com os dados.

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As que tiveram partos prematuros ou que deram à luz bebés com baixo peso à nascença tinham um risco duas vezes superior de morrer de causas relacionadas com as vias respiratórias e um risco 1,2 vezes superior de morrer de cancro.

O risco de morrer devido à diabetes era mais de duas vezes superior nas mulheres com partos prematuros ou pré-eclampsia e 25 vezes superior nas mulheres com diabetes gestacional, concluíram os investigadores.

"O maior estudo realizado até à data"

Quanto à duração destes riscos acrescidos após o parto, a associação entre o parto prematuro e o aumento do risco de mortalidade foi mais elevada na primeira década após o nascimento, tendo depois diminuído, segundo o estudo, mas as associações entre outras complicações da gravidez e o maior risco de mortalidade mantiveram-se estáveis ou cresceram com o tempo.

“Tanto quanto sabemos, este é o maior estudo até à data a avaliar os múltiplos efeitos adversos da gravidez na mesma amostra que a mortalidade a longo prazo e o primeiro a analisar os potenciais fatores de interferência familiar não medidos”, escreveram os investigadores, acrescentando que os seus resultados não foram explicados pelo histórico de saúde familiar da mulher.

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Num estudo separado, Crump e os seus colegas descobriram anteriormente que as complicações durante a gravidez podem estar associadas a um maior risco de doença cardíaca, a principal causa de morte nos Estados Unidos.

De um modo geral, é “bem conhecido” o facto de certas complicações da gravidez estarem relacionadas a um risco acrescido de doenças cardiovasculares e metabólicas numa fase posterior da vida, afirmou Joanne Stone, professora e presidente do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Ciências da Reprodução da Escola de Medicina Icahn, que não participou no novo estudo.

Agora, o estudo “solidifica realmente o que já se sabia”, diz Stone.

“Isto acrescenta informações extremamente importantes ao historial clínico geral de uma mulher, porque muitas doentes não se lembram de apresentar esse histórico aos médicos e um internista pode não fazer perguntas sobre complicações na gravidez. Mas isto realça realmente a sua importância", afirma. “O histórico da gravidez materna é uma parte crucial do histórico clínico geral de uma mulher e realça que as mulheres que experienciaram tais efeitos adversos na gravidez devem ter uma prevenção e um diagnóstico precoce para evitar mortes prematuras”.

O novo estudo não incluiu dados sobre outros fatores que podem ter impacto na saúde geral da mulher, como a alimentação ou o exercício físico, mas é sabido que um estilo de vida saudável - como uma alimentação equilibrada, manter um peso saudável, não fumar e limitar o consumo de álcool - pode reduzir o risco de complicações na gravidez, bem como obter cuidados de saúde adequados antes, durante e depois da gestação.

“Muitas destas doenças - pré-eclampsia, hipertensão, diabetes - podem estar associadas à obesidade, por exemplo. Por isso, ter o peso sob controlo, ser saudável, fazer mais exercício, ter um estilo de vida saudável pode certamente ajudar", garante Stone. “Há muitas intervenções no estilo de vida que podem ser feitas para melhorar a saúde durante a gravidez”.

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