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1,6 milhões de portugueses sofrem de dor crónica

Apesar da falta de estudos, a dor contribui para o absentismo laboral

O Estado pouparia milhões de euros se investisse mais na prevenção e tratamento da dor, fenómeno que afecta 1,6 milhões de portugueses, referem especialistas a propósito do Dia Nacional de Luta contra a Dor, que hoje se assinala, escreve a agência Lusa.

A dor contribui para o absentismo e provoca quebra de produtividade laboral, embora não haja dados concretos sobre custos directos e indirectos, lacuna que a Associação Portuguesa de Luta Contra a Dor pretende colmatar até final do ano.

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De acordo com um estudo realizado em pessoas que frequentam unidades de dor crónica nos hospitais portugueses, em 85 por cento dos doentes a dor interfere de forma moderada ou grave no trabalho, referiu à Lusa o presidente da Associação, Castro Lopes.

2,5 mil milhões de euros de custos directos

No Reino Unido, um estudo demonstrou que as lombalgias (dores de costas) representavam 2,5 mil milhões de euros de custos directos (despesas de Saúde) e 17,3 mil milhões de euros de custos indirectos (traduzidos em absentismo ou perda de produtividade) só num ano.

Transpostos estes dados para a realidade interna, em Portugal os custos directos e indirectos apenas no que respeita às lombalgias seriam de dois mil milhões de euros por ano.

Castro Lopes sublinhou ainda que, do ponto de vista financeiro, continua a ser mais compensador para as unidades hospitalares fazer cirurgias do que apostar nas unidades de dor - com programas terapêuticos de controlo -, uma vez que o Estado paga mais por uma intervenção cirúrgica do que por uma consulta numa unidade.

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Também a responsável pela unidade da dor do Hospital Amadora-Sintra, Georgina Cosselo, considera ser necessário mais apoio financeiro para estas unidades. «A dor interfere muito com a vida pessoal e laboral das pessoas. Estas unidades podem dar um grande contributo para evitar o absentismo laboral», disse à Lusa a responsável pela unidade onde são recebidos entre 10 e 12 doentes por dia.

Na unidade da dor do Amadora-Sintra trabalham nove profissionais, desde anestesistas a psiquiatras. Além da questão física, é necessário ajudar a recuperar alterações da vida das pessoas causadas pela dor, como perturbações do sono, do humor ou ansiedade.

Cerca de 70 por cento dos doentes da unidade do Amadora-Sintra sofrem de problemas como lombalgias, doenças degenerativas ou artroses.

Também na unidade do Hospital de São João, no Porto, uma das primeiras a aparecer no país, a maioria das doenças não é do foro oncológico. «Temos uma faixa muito grande de doentes cuja dor é de origem muscular, outras causas são a lesão do nervo (em pessoas operadas à coluna) e da estrutura óssea», explicou à Lusa o chefe da Unidade, José Correia. O clínico lamenta que a dor seja «sub-tratada» em Portugal e ainda que os métodos e tratamentos da dor sejam «tão caros».

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Fraca comparticipação estatal

A mesma opinião tem o presidente da Associação para o Estudo da Dor, apontando a fraca comparticipação estatal dos medicamentos como um dos problemas. «Os medicamentos opióides (os mais eficazes na dor crónica forte) são comparticipados em apenas 40 por cento», precisou, manifestando a esperança de que a situação seja alterada.

Para traçar um cenário da dor em Portugal, um grupo de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto está a realizar um estudo epidemiológico através de entrevistas telefónicas. Os investigadores pretendem realizar ao todo cinco mil inquéritos e até hoje foram feitos 1.200, que permitem estimar que 16 por cento da população sofre de dor crónica.

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