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Transplante pulmonar deu uma "segunda vida" a 400 doentes em Portugal

Entre os 400 doentes transplantados, em que o mais novo tinha 13 anos e o mais velho 70 anos, estão três casos de pacientes que não tinham histórico de doença pulmonar

Os novos pulmões de Paulo Fradão foram transplantados há sete anos no Hospital Santa Marta, dando-lhe “uma segunda vida”, tal como aos 400 doentes que, desde 2001, foram submetidos a esta intervenção que os livrou da morte iminente.

“Eu tive o privilégio de ter uma segunda vida. Acho que pouca gente tem o privilégio de poder dizer isso, mas eu digo”, afirmou orgulhoso à agência Lusa no dia em que a Unidade Local de Saúde São José – Hospital Santa Marta assinala numa cerimónia, em Lisboa, os 400 transplantes pulmonares em Portugal.

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Aos 37 anos, Paulo Fradão foi diagnosticado com doença pulmonar obstrutiva crónica e bronquiectasia (uma dilatação anormal e irreversível dos brônquios) que o levaram em 1998 a uma consulta no Hospital Egas Moniz, onde a médica lhe disse que o seu problema só se resolveria com um transplante dos dois pulmões.

Na altura, a maior parte dos transplantes eram feitos na Galiza, em Espanha. Paulo foi fazendo fisioterapia, esteve algumas vezes internado, até que, em 2005, a doença agravou-se de “uma forma brutal” e passou a usar oxigénio 24 horas por dia.

“De consulta em consulta, de infeção em infeção”, foi conseguindo manter-se e ao fim de 12 anos a usar oxigénio a pneumologista que o acompanhava disse-lhe que era “a altura ideal” para o propor para transplante.

“Disse-me que já se faziam em Portugal com algum sucesso no Hospital de Santa Marta”, a única instituição que realiza transplante pulmonar em Portugal.

Esteve três anos em lista de espera, sendo que no segundo ano, mais precisamente no dia 30 de agosto de 2016, recebeu uma chamada da mulher a dizer: “Ligaram do Santa Marta e acho que têm os pulmões para ti”.

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“Fiquei muito nervoso porque tinha muita ansiedade, muito medo de ser transplantado”, o que acabou por não acontecer naquele dia porque tinha estado “numa patuscada” e exagerou “um bocadinho mais na cerveja”.

O transplante dos dois pulmões acabou por acontecer no ano seguinte, no dia 31 de maio, com Paulo já mentalizado que teria de “enfrentar o transplante”.

Paulo Fradão disse que está reformado, mas tem “uma vida superativa: Brinco, faço natação, faço caminhadas diariamente, menos ao domingo, desde o dia em que tive alta do hospital”.

O coordenador da Unidade de Cirurgia Torácica do Hospital de Santa Marta, Paulo Calvinho, disse à Lusa que os 400 transplantes pulmonares realizados em Portugal representam “a maturidade de um programa e a maturidade de uma prática”.

“Não estamos a comemorar os 400 [transplantes], estamos a comemorar na realidade toda uma história”, disse o cirurgião torácico que, juntamente com a pneumologista Luísa Semedo, dirige a Unidade de Transplantação Pulmonar.

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Paulo Calvinho recordou que o primeiro transplante cardiopulmonar foi realizado em Portugal, em 1991, pelo médico Rui Bento. Houve depois um interregno e, em 2001, o médico Henrique Vaz velho fez o primeiro transplante pulmonar.

Em 2007, o cirurgião cardiotorácico José Fragata e o especialista Fernando Martelo reorganizaram o programa de transplante pulmonar no sentido de dar-lhe “a consistência e a profissionalização que é necessário num programa desta exigência”.

Segundo Paulo Calvinho, foi a partir desta data que “o programa tem vindo a crescer de forma sistemática e consistente”, estando o centro a fazer neste momento cerca de 40 transplantes por ano, atingindo o máximo em 2023, com 44 transplantes.

Entre os 400 doentes transplantados, em que o mais novo tinha 13 anos e o mais velho 70 anos, estão três casos de pacientes que não tinham histórico de doença pulmonar, mas que a covid-19 lhes estragou os pulmões e tiveram que fazer transplante, disse o especialista.

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Lista de espera estabilizou nos 70 doentes

O número de doentes em lista de espera para transplante pulmonar estabilizou em cerca de 70, apesar do aumento de intervenções, disse hoje o cirurgião Paulo Calvinho, defendendo ser necessário mais estratégias para haver mais órgãos disponíveis para transplantar.

No dia em que a Unidade Local de Saúde São José – Hospital Santa Marta assinala, numa cerimónia em Lisboa, os 400 transplantes pulmonares realizados em Portugal desde 2001, o cirurgião torácico falou à agência Lusa dos avanços e dos desafios nesta área.

O coordenador da Unidade de Cirurgia Torácica do Hospital de Santa Marta, a única instituição que realiza transplante pulmonar no país, adiantou que Portugal está “muito bem” posicionado na transplantação, mas sublinhou que “a doação é sempre o marca-passo de um programa de transplantação”, porque os especialistas dependem deles para “poder socorrer a estes doentes”.

“A doação tem tido um desenvolvimento muito grande no nosso país. Temos uma lei muito favorável e temos hospitais de doação que têm uma dedicação de facto muito grande nesta área, mas como é óbvio precisamos ainda de melhorar mais e precisamos de aumentar o número de dadores de pulmão e o potencial é grande”, salientou.

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Paulo Calvinho observou que, comparando com Espanha e com todas as estratégias de doação que os espanhóis têm, verifica-se que Portugal ainda está a cerca de 60% dos órgãos que Espanha colhe, o que significa que ainda é preciso “um longo trabalho na doação”, envolvendo todos os intervenientes, desde o Instituto Português do Sangue e Transplantação até os hospitais de doação.

“Apesar do incremento que nós temos no número de transplantes por ano, a nossa lista de espera estabilizou na casa dos 70 doentes, que é de facto significativo. E, portanto, essa nossa necessidade de poder ter mais estratégias para poder ter mais órgãos disponíveis para transplantar”.

Apontou como um objetivo de futuro, que poderá ser concretizado em breve, ter “uma máquina de perfusão” que permitirá um aumento de cerca de seis a 10 transplantes por ano.

Esta tecnologia pode colocar “em condições para transplantar” alguns pulmões que possam ter edema e que estejam encharcados de água, que é normal acontecer num mecanismo de morte cerebral, libertando essa água, bem como pulmões de doentes que fazem paragens cardiocirculatórias na rua e que não se consegue reanimar.

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Para Paulo Calvinho que, juntamente com a pneumologista Luísa Semedo, dirige a Unidade de Transplantação Pulmonar do Hospital Santa Marta, também é importante dar um foco à multidisciplinaridade.

“Esta equipa é muito grande, extravasa o hospital (…) vai desde a referenciação destes doentes, que são todos do país”, às colheitas realizadas no “país inteiro”, e conta com o apoio de todas as estruturas que envolvem a doação e a transplantação, entre as quais a Força Aérea, o Instituto Nacional de Emergência Medica, a GNR, PSP.

Além da multidisciplinaridade, o especialista destacou também o “grande avanço” nas estratégias de comunicação e de sensibilização para a doação de pulmão, com viagens pelo país.

Do ponto de vista técnico, foram ultrapassadas três barreiras, uma das quais “a barreira de doente limite que está no extremo e que está em ECMO (apoio circulatório extracorpóreo) como ponte para transplante e fizemos já casos sucessivos de sucesso”.

“Transpusemos a marca do retransplante e começamos a fazer a transplantação na hipertensão pulmonar que eram ainda barreiras técnicas que ainda não tínhamos conseguido atingir e que neste momento estamos em pleno. E, portanto, é um motivo de orgulho para toda a equipa com quem trabalhamos”, realçou.

Há alguns desafios técnicos e científicos relacionados fundamentalmente com a imunologia e a biologia dos doentes, sendo “absolutamente crucial” conseguir ter estratégias de aumentar a sobrevida a longo prazo.

“As sobrevidas imediatas são boas, na casa dos 90%, 95%, mas a longo prazo há como que uma estagnação a nível Internacional e isso implica metodologias de vigilância do doente no domicílio”, disse, adiantando que estão a trabalhar nesse sentido, assim como na integração de todos os dados, porque o conhecimento que existe “é muito grande, mas precisa de ser integrado”.

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