Uma caricatura do profeta Maomé, sobre fundo verde, com uma lágrima no olho e a segurar um papel com o lema: «Je suis Charlie», igual aos utilizados por milhões de pessoas que se manifestaram em defesa da liberdade de expressão. Em cima pode ler-se o título: «Tudo está perdoado». A capa do semanário «Charlie Hebdo» foi revelada no início da semana, mas esta quarta-feira esgotou em minutos depois de ter chegado às bancas. É a edição 1178 do jornal que foi lançado em 1970.
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Sátira sexual, paródias com figuras religiosas e agradecimentos. O semanário «Charlie Hebdo», atacado há precisamente uma semana, no dia 7 de janeiro, por dois extremistas islâmicos, tem 16 páginas, em vez das habituais oito. Os jornalistas que fizeram esta edição conseguem, mesmo assim, fazer humor com o facto de terem sobrevivido, ironizando com a morte de 10 colegas e com as próprias vendas que a edição especial vai ter.
O profeta do Islão é apenas caricaturado na capa do jornal. Nas páginas interiores da edição há vários desenhos de extremistas, mas Moamé não aparece mais. Num dos desenhos do jornal, o líder do Estado Islâmico, Al-Bagdadi, formula votos de Bom Ano Novo, desejando sobretudo «saúde». É a mesma imagem de Al-Bagdadi divulgada na rede social Twitter, minutos antes do ataque terrorista ao «Charlie Hebdo».
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O editorial agradece a todos os que têm mostrado solidariedade para com os 10 jornalistas do «Charlie Hebdo» que acabaram mortos. Mas há também um ataque às «insinuações pseudointelectuais» de que o «Charlie Hebdo» é islamofóbico. Ou seja, há uma condenação das posições que criticam a postura do jornal que, por criticar o Islamismo, estaria a desafiar as reações mais extremas.
No editorial pode também ler-se uma das piadas mais contundentes desta edição do semanário:
«O que nos fez rir mais esta semana foi os sinos de Nôtre Dame tocarem em nossa honra».
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No interior da publicação há várias homenagens às vítimas dos atentados sob a forma de caricaturas. Há ainda um desenho dos irmãos Kouachi no céu. Os extremistas islâmicos perguntam:
«Onde estão as 70 virgens?». E respondem-lhes: «Estão com a equipa do Charlie Hebdo».
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O médico Patrick Pelloux assina uma crónica cujo título, traduzido, diz: «Eu, tu, ele, nós, vós eles somos Charlie». E deixa algumas palavras ao amigo Charb, o diretor do jornal Stéphane Charbonnier, morto no ataque:
«O jornal teve que fazer um esforço incrível esta semana para ter tamanha cobertura. O Charb vai ficar contente, porque as vendas vão aumentar».
Uma semana depois do ataque terrorista, nunca o «Charlie Hebdo» esteve tão vivo. Em minutos, os 27 mil pontos de venda em França ficaram sem qualquer exemplar do jornal satírico. A forte procura levou o distribuidor a aumentar a tiragem para cinco milhões de exemplares. Tudo nesta edição 1178 do «Charlie Hebdo» é histórico e são muitos que querem guardar o jornal.
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