As calças eram azuis, a camisola era vermelha. O menino, morto. O corpo de Aylan Kurdi deu à costa numa praia de Lesbos e tornou-se na imagem icónica da crise dos refugiados, em 2015. Agora, mas a preto e branco, o famoso artista e dissidente chinês Ai Weiwei recriou essa imagem, numa homenagem a uma causa a que se tem dedicado.
PUB
A foto é da autoria de Rohit Chawla e vai constar na próxima edição da India Today, uma das maiores publicações indianas, que tem um artigo dedicado ao artista. A imagem já se tornou viral.
"Eu estava lá e podia sentir o meu corpo a tremer com o vento – pode-se sentir a morte no vento. Somos levados por algum tipo de emoções que só podemos ter quando estamos lá”.
PUB
"Tinha todos os meus casacos vestidos e estava tão frio - o vento parece que passa através do corpo. Tente imaginar as pessoas no oceano (…) com as pernas congeladas”
Para Weiwei, estar na mesma posição de Kurdi é ao mesmo tempo uma chamada de atenção para quem lidera o problema. “A nossa condição pode estar tão longe das preocupações humanas na política dos nossos dias”, lamentou. O artista quer construir um estúdio em Lesbos, com voluntários de Pequim e Berlim para fazer pesquisa e filmar o drama. O plano é passar pela Síria, Iraque e outros países do Oriente Médio onde a crise dos refugiados encontra eco.
Ele, que é um dissidente chinês, sabe que pode ter problemas em concretizar todos estes seus planos, porque ainda há pouco tempo teve o passaporte confiscado. Foi-lhe devolvido em julho passado, quatro anos depois de as autoridades lhe terem revogado o direito a viajar.
Mas Weiwei continua, com mensagens carregadas de força. Desta vez, o seu alvo é naturalmente o Velho Continente: “A Europa não é muito mais do que um cobertor”.
PUB