Tudo, menos milagres. António Guterres encontrou-se esta terça-feira com os funcionários das Nações Unidas, em Nova Iorque, a quem dirigiu uma mensagem pedindo empenhamento na defesa da Carta constitutiva da organização e com quem deverá trabalhar nos próximos cinco anos.
Sei que a forma como o processo de eleição decorreu gerou muitas expectativas. Acho que é útil dizer que não há milagres e tenho a certeza de que não sou milagreiro", disse o primeiro secretário-geral da ONU português.
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Para Guterres, segundo as suas palavras, "a única forma de atingir os nossos objetivos é trabalhar juntos, como equipa, e ganhar o direito de servir os valores globais consagrados na Carta, que são os valores da ONU e os valores que unem a humanidade".
Lembrado atentado na TurquiaEm funções desde o primeiro dia do ano, quando assinou a sua primeira declaração como secretário-geral da ONU, António Guterres não deixou de lembrar o atentado ocorrido numa discoteca da Turquia, precisamente na passagem de ano, que vitimou 39 pessoas.
Podem imaginar como é para mim, que trabalhei com as pessoas da Turquia enquanto Alto-Comissário, país que se tornou o maior recipiente de refugiados de todo o mundo, ver que se tornam agora vítimas deste terrível ataque terrorista", disse o secretário-geral.
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Fazendo um balanço em que lembrou que os números da pobreza extrema desceram e que aumentaram as proteções sociais nas últimas décadas, Guterres notou que "a verdade é que as desigualdades sociais aumentaram".
Defesa do multilateralismoNum mundo em que tudo se tornou global, em que as comunicações se tornaram globais, o facto de seres excluído torna-se ainda mais insuportável. As pessoas podem ver como os outros vivem, podem ver a prosperidade noutras partes do mundo. Esta exclusão desperta e invoca raiva e torna-se um fator de instabilidade e conflito", disse.
António Guterres referiu-se ainda àquele que deve ser um dos grandes desafios do seu mandato: os ataques crescentes ao multilateralismo vindos de políticos nacionalistas, como Donald J. Trump, que toma posse a 20 de janeiro como presidente dos EUA.
Este é o momento em que temos de afirmar o valor do multilateralismo. Este é o momento em que temos de reconhecer que apenas soluções globais podem resolver problemas globais e que a ONU é a pedra basilar dessa abordagem multilateral", afirmou o secretário-geral.
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Para Guterres, o mundo enfrenta problemas que só podem ser resolvidos com o empenhamento de todos.
Quando olhamos para as grandes tendências mundiais, como o crescimento da população e o aquecimento global, vemos que os problemas se tornaram globais e que não há forma de serem resolvidos país por país", acrescentou.
Guterres disse ainda que não se deve “tomar nada como garantido" e que estes sentimentos "não são partilhados por muitas pessoas no mundo."
Dinamismo na ONUVemos em muitos países a crescente divisão entre opinião pública, governos e classe política. Também vemos em muitas partes do mundo, em relação a organizações internacionais como a ONU, resistência e ceticismo quanto ao papel que a ONU pode desempenhar", disse o sucessor do sul-coreano Ban Ki-moon.
António Guterres, falando aos funcionários da ONU, considerou que estes devem estar orgulhosos do seu trabalho e "reconhecer os seus feitos" na melhoria da qualidade de vida de pessoas em todo o mundo. Mas devendo também assumir o que correu pior.
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Também precisamos reconhecer aquilo em que ficamos aquém, as nossas falhas, e reconhecer as situações em que não conseguimos ajudar, como deveríamos, as pessoas com quem nos preocupamos", disse, indicando erros, por exemplo, na resolução de conflitos e manutenção de paz.
Numa mensagem dirigida para a própria organização e os seus colaboradores, António Guterres referiu-se ainda à reforma institucional que pretende implementar.
Precisamos livrar-nos deste colete de forcas de burocracia que nos torna a vida tão difícil em tantas das coisas que fazemos", disse.
Estes tempos vão ser desafiantes. Mas precisamos saber que não é suficiente fazer a coisa certa. Temos de ganhar o direito para fazer a coisa certa. E isto é algo que, claramente, precisamos fazer todos juntos", concluiu António Guterres.
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