Um conflito diplomático que já dura há várias semanas na fronteira da Índia com a China, na cordilheira dos Himalaias, teve esta segunda-feira o seu episódio mais negro até ao momento. As autoridades indianas confirmaram esta terça-feira que 20 soldados foram mortos pelas tropas chinesas perto de Galwan, aumentando a tensão entre as duas potências.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês confirmou a existência de um "confronto físico violento", segundo a agência Reuters. O governo indiano acrescentou que foram registadas vítimas de ambos os lados.
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Uma fonte do governo indiano disse que os confrontos ocorreram com recurso a varas e pedras, afirmando que não foram disparados quaisquer tiros.
O ministro da Defesa indiano, Rajnath Singh, afirmou que a perda dos soldados é "profudamente dolorosa", ressalvando a "coragem" daqueles que sacrificaram as vidas para defenderem o seu país.
The loss of soldiers in Galwan is deeply disturbing and painful. Our soldiers displayed exemplary courage and valour in the line of duty and sacrificed their lives in the highest traditions of the Indian Army.
— Rajnath Singh (@rajnathsingh) June 17, 2020
O jornal oficial do Partido Comunista Chinês disse que o confronto ocorreu porque a Índia subestimou a força e a resiliência do exército chinês em retaliar.
O Global Times afirmou que o país optou por não divulgar se houve baixas do lado chinês para evitar comparações e impedir nova escalada.
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Este é o primeiro confronto que ocorre na fronteira e resulta em mortes desde 1967.
A China e a Índia têm trocado várias acusações sobre quem será responsável pelas mortes registadas na zona montanhosa de Ladakh.
Desde o início de maio que centenas de soldados ocupam três pontos estratégicos na fronteira entre os dois países, com ambos os governos a acusarem-se mutuamente de invasão.
As duas partes continuam a tentar chegar a um acordo, mas, segundo uma fonte do governo indiano, o exército chinês acabou por atacar um grupo de soldados indianos.
Atacaram com varas de ferro, o comandante ficou gravemente ferido e caiu, e depois chegaram mais soldados e atacaram com pedras", acrescenta a mesma fonte, citada pela Reuters.
Para o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, a Índia violou um consenso a que ambas as partes tinham chegado, ultrapassando a fronteira por duas vezes, naquilo que foi considerado pela China como uma provocação.
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A China reivindica cerca de 90 mil quilómetros quadrados de território no nordeste da Índia. A Índia diz que a China ocupa 38 mil quilómetros quadrados de território no planalto de Aksai Chin, na região dos Himalaias, uma parte contígua da região de Ladakh.
A Índia declarou unilateralmente Ladakh um território federal em agosto de 2019. A China foi dos poucos países a condenar fortemente a medida, referindo-a em fóruns internacionais, incluindo no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A ONU instou os dois lados a "exercerem máxima contenção".
Estamos preocupados com os relatos de violência e mortes na Linha de Controlo Real entre a Índia e a China", disse Eri Kaneko, porta-voz da ONU.
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A fronteira entre a Índia e a China prolonga-se por mais de quatro mil quilómetros, e tem sido palco de tensões militares praticamente desde a fundação dos dois países.
Já esta terça-feira, os dois governo conversaram, e acordaram "aliviar tensões na região".
“Os dois lados concordaram em tratar cuidadosamente os graves acontecimentos causados pelo conflito no vale de Galwan”, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, num comunicado divulgado após uma reunião telefónica entre os chefe da diplomacia de Pequim, Wang Yi, e o seu homólogo indiano, Subrahmanyam Jaishankar.
Os governos da China e da Índia concordaram ainda em “respeitar o consenso alcançado durante as reuniões militares entre as duas partes, para aliviar tensões no terreno o mais depressa possível e para manter a paz e tranquilidade na área de fronteira”, acrescenta o comunicado.
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