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EUA vs. China: uma cibercrise para a mesa de negociações

Autoridades chinesas negam estar por detrás de ataques de «hackers» a interesses norte-americanos

O relatório de uma firma privada de segurança informática, a Mandiant, está na base da crise que ameaça deixar as relações entre Estados Unidos e China no ponto mais delicado dos últimos anos. O documento, divulgado terça-feira, é o primeiro a referir explicitamente uma ligação entre a China e os recentes ataques informáticos que têm atingido diversas empresas e serviços governamentais norte-americanos.

A acusação não foi oficialmente subscrita pelas autoridades norte-americanas, mas está por detrás da proposta de alteração legislativa anunciada por Barack Obama na semana passada, durante o discurso sobre o Estado da Nação, que reforça os poderes presidenciais perante ataques informáticos do exterior. A ligação à China ganhou dimensão com a identificação, no relatório da Mandiant, de um edifício de 12 andares, nos arredores de Xangai, como origem dos ataques de hackers. A torre é sede de uma unidade especial das forças armadas chinesas, acusa o relatório.

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O impacto da acusação motivou já uma reação das autoridades chinesas, através de um comunicado do ministério da Defesa que aponta falhas técnicas ao documento: «Ao confiar apenas em links de endereços IP para chegar a uma conclusão de que os ataques de hackers partiram da China, o relatório carece de prova técnica. O uso de endereços IP usurpados para ataques de hackers acontece em base quase diárias», pode ler-se no texto. O porta-voz ministerial Hong Lei reforçou: «Fazer acusações sem fundamento, baseadas em resultados preliminares, é irresponsável e pouco profissional e não ajuda à solução de um problema relevante», acusou.

Fundada em 2006, com sede no estado da Virginia, a Mandiant ganhou projeção em janeiro, ao colaborar com o New York Times para descobrir a origem de ataques informáticos levados a efeito contra o jornal, depois de este ter publicado, em outubro de 2012, uma investigação sobre a fortuna da família do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao. O relatório agora conhecido foi apresentado como resultante de uma investigação com seis anos, que associou 141 ataques a um grupo de hackers com atividade numa localização muito específica de Xangai.

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Uma reportagem do New York Times confirmou as revelações da Mandiant junto de elementos dos serviços de informação americanos. O artigo acrescenta que para além de companhias comerciais de grande dimensão, como a Coca-Cola, o foco dos ataques, nos últimos meses, passou para a recolha de dados sobre infraestruturas dos Estados Unidos, como as redes de abastecimentos de gás, água e eletricidade.

Sem mencionar a China, a declaração de Obama, no discurso sobre o Estado da Nação, mostra que o assunto passou a estar no topo das prioridades de segurança dos EUA: «sabemos que há países estrangeiros a atacar os nossos segredos industriais», afirmou o presidente norte-americano, que mencionou também «a capacidade para sabotar a nossa rede elétrica e as nossas instituições financeiras».

No entanto, as conclusões da Mandiant não são consensuais, mesmo no universo dos peritos em segurança informática. Em declarações ao Business Insider, Jeffrey Carr, diretor executivo de uma empresa concorrente, a Taia Global, mostrou-se cético: «O relatório não exclui que a ameaça tenha outras origens, ou que outros serviços de informação usem a China como falsa pista para disfarçar as suas atividades. Bastaria ter uma empresa fantasma em Xangai», frisou, lembrando que também alguns elementos dos serviços de informação norte-americanos já foram ligados a ataques de pirataria informática.

«A Rússia faz muita ciberespionagem, como França, Israel, Alemanha, Taiwan e outros países. E também empresas dos EUA», sublinhou Carr. Esse é também um argumento utilizado pela diplomacia chinesa, que lembra o facto de os serviços de informação norte-americanos também já terem recorrido a ataques do género, como a sabotagem do programa nuclear do Irão através do vírus Stuxnet.

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