A solenidade das declarações nos tributos a Margaret Thatcher, depois da notícia do seu falecimento, mostra que a única mulher a atingir o cargo de primeiro-ministro na Grã-Bretanha deixou uma marca na história do seu país superior à de qualquer outro detentor do cargo depois de Churchill.
Longe de ser consensual, o legado político de Thatcher é incontornável, mesmo para os seus opositores. Desde que chegou ao poder, em 1979, a «Dama de ferro» desempenhou papel marcante na transformação do seu país, dando novo fôlego ao partido Conservador, e impondo o liberalismo como ideologia dominante. Com a desnacionalização como palavra-chave e as privatizações como credo, Thatcher entrou em conflito com várias organizações sindicais e laborais, resistindo a um forte período de instabilidade social e de greves.
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O período mais tenso coincidiu com a greve dos mineiros, que durou praticamente um ano, entre 1984 e 85, e terminou com uma vitória política de Thatcher, que desta forma foi retirando peso ao movimento sindical britânico. O retomar da economia britânica, em meados da década, devido em grande parte à exploração novos recursos petrolíferos no mar do Norte, permitiu-lhe restruturar a indústria e as relações laborais em nome da lógica de mercado, surgindo no final da década de 80 como vencedora do combate que escolheu travar.
Ao mesmo tempo, com Thatcher, a Grã-Bretanha definia as linhas de uma política ambígua em relação à União Europa, que se mantém até aos dias de hoje. A «dama de ferro» definia de forma irónica as instituições europeias como «o império belga», e opondo-se às ideias definidas por líderes como Jacques Delors, vincava a identidade nacional britânica, usando a sua autoridade negocial para forçar a devolução de verbas comunitárias à Grã-Bretanha por parte de Bruxelas.
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Se no plano doméstico Thatcher era implacável para com os seus adversários, mesmo ¿ ou especialmente ¿ os que encontrava no interior do seu partido, no plano externo, a rigidez das suas posições tornou-a o aliado preferencial do presidente norte-americano Ronald Reagan, na última etapa da Guerra Fria, que se concluiu com a queda do muro de Berlim. Diz a lenda que foi do lado soviético que veio a alcunha «dama de ferro», que a própria primeira-ministra não enjeitou usar para fins de propaganda.
A sua herança na política externa inclui também uma guerra com a Argentina, em 1982, a pretexto da invasão das ilhas Falkland, no Atlântico Sul, e um braço de ferro implacável com o IRA, que teve como ponto mais crítico a greve de fome em 1981, que resultou na morte de dez ativistas do Exército de Libertação Irlandês, entre eles o do líder político Bobby Sands, a quem Thatcher sempre se referiu como «um criminoso condenado». Como retalização, em 1984 o IRA fez explodir uma ala do hotel em Brighton, onde Thatcher se encontrava, causando a morte a cinco pessoas. A segunda metade da década de 80 trouxe, entretanto, um período de negociações e degelo político nesta questão, encaminhando o fim do conflito armado, ao mesmo tempo que deixava Thatcher mais isolada em questões como o «apartheid», tema em que as suas simpatias pelo regime de Pretória fizeram com que nunca reconhecesse legitimidade política a Nelson Mandela enquanto ocupou o número 10 de Downing Street.
Uma política medida de agravamento fiscal, e dissidências internas no partido Conservador fizeram-na, entretanto, perder parte do controlo sobre o aparelho do partido, levando-a à saída do cargo, em 1990, por entre lamentos de traição. Depois das vitórias eleitorais de 1979, 1983 e 1987, a «Dama de Ferro» não chegou a perder qualquer eleição para os Trabalhistas, sendo o novo líder conservador, John Major, o seu sucessor no cargo, de 1990 a 1997. Uma sucessão pálida, como disse o presidente da câmara de Londres, Boris Johnson, comentando o desaparecimento de Thatcher: «A sua memória vai perdurar muito depois de o mundo ter esquecido os fatos cinzentos da política atual»
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