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Um ano depois do sequestro de 276 raparigas na Nigéria pelo grupo extremista Boko Haram, a Nobel da Paz em 2014, Malala Yousafzai, de 17 anos, escreveu uma carta aberta às raparigas, com palavras de «solidariedade, amor e esperança», e que foi tornada pública na segunda-feira.
«O meu nome é Malala. Sou uma paquistanesa da vossa idade e faço parte dos milhões de pessoas que vos aconchega, e à vossa família, nas nossas orações. Não conseguimos imaginar os horrores pelos quais já passaram, mas fiquem a saber disto: nunca vos esqueceremos», começa por escrever Malala, acrescentando que todos os dias as autoridades nigerianas são pressionadas para resgatarem as jovens.
«Na minha opinião, os líderes nigerianos e a comunidade internacional não têm feito o suficiente para conseguir a vossa liberdade», escreve a ativista. «Eles devem fazer muito mais para vos conseguir libertar. Eu estou entre as pessoas que os estão a pressionar para que assegurem a vossa libertação», acrescenta.
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Na carta que leu para a BBC News, Malala cria, logo a seguir, um elo de ligação com as centenas de raparigas raptadas.
«Como vocês, fui alvo dos fundamentalistas que não queriam que eu fosse à escola. Homens armados dispararam contra mim e mais duas amigas no autocarro escolar. Sobrevivemos e voltámos para a escola. Agora falamos em nome de todas as jovens que têm o direito de obter uma educação apropriada».
Um ano sem liberdade para 219 adolescentes«Eu e o meu pai prometemos aos vossos pais e às raparigas que escaparam que vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para os ajudar», diz ainda Malala.
Na capital da Nigéria, Abuja, uma marcha juntou esta terça-feira 219 raparigas. Cada uma representa uma das jovens raptadas a 14 de abril de 2014, de uma escola de Chibok pelo o grupo extremista islâmico Boko Haram. Do grupo, 57 raparigas conseguiram fugir, quanto às restantes não se conhece o paradeiro, tendo sido vistas pela última vez num vídeo divulgado pelo Boko Haram em maio de 2014.
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Uma testemunha disse à BBC News que avistou, com vida, cerca de meia centena dessas raparigas, há três semanas no norte da Nigéria, na cidade de Gwoza, antes do Boko Haram ser obrigado a retirar da cidade pelas forças governamentais. Um sinal de esperança que chega um ano depois do rapto em Chibok e que chocou a comunidade internacional.
O rapto suscitou reações em todo o mundo. As Nações Unidas e organizações de defesa dos Direitos Humanos denunciaram a situação. A campanha Bring Back Our Girls (Tragam as nossas raparigas de volta) não baixou os braços. Estados Unidos e China prometeram ajuda. A primeira-dama norte-americana, Michelle Obama, e a Prémio Nobel da Paz Malala Yousafzai dão a cara pela luta. O recém-eleito presidente nigeriano tornou o caso prioridade. Mas as meninas continuam desaparecidas.
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«Não sabemos se as raparigas de Chibok podem ser resgatadas. O seu paradeiro permanece desconhecido. Gostaria muito de o fazer, mas não posso prometer que as vamos encontrar», afirmou o Chefe de Estado em comunicado, citado pela AFP.
Forçadas a casar-se ou treinadas para lutar«Mas eu digo a todos os pais, familiares e amigos das crianças que o meu Governo vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance para as trazer de volta a casa», acrescentou.
O relatório acusa o grupo terrorista de violações, casamentos forçados e de obrigar as mulheres a desempenharem ataques armados, por vezes às próprias aldeias.
O Boko Haram anunciou primeiro que ia vender as meninas de Chibok. O chefe do grupo extremista, Abubakar Shekau, garantiu que as converteu ao Islão e que tinham sido forçadas a casar-se. O Exército nigeriano afirmou no passado que sabia onde estavam as estudantes, mas que uma operação de resgate seria muito arriscada.
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Um novo relatório da Amnistia Internacional, citado pela France Presse, revela que as jovens raptadas estão distribuídas por vários campos do Boko Haram, na Nigéria e em países vizinhos, o Chade e os Camarões.
A Amnistia calcula ainda que pelo menos quatro mil pessoas tenham sido mortas pelo grupo islamista em 2014 e que o mesmo tenha acontecido a 1500 no primeiro trimestre de 2015. Desde o início da sublevação islamista, em 2009, foram mortas mais de 13 mil pessoas na Nigéria. Só entre Janeiro de 2014 e Março de 2015, ataques à bomba atribuídos ao grupo mataram mais de 800 pessoas. O terror do Boko Haram deu também origem a mais de um milhão de deslocados.
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