O Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina distinguiu, este ano, investigações sobre as «células de lugar» e «células de grade», que constituem «um sistema no cérebro de determinação da posição». Trata-se de uma espécie de GPS interno.
As descobertas do anglo-americano John O'Keefe e do casal norueguês May-Britt e Edvard Moser mostram, no fundo, o modo como o nosso cérebro trabalha para nos ajudar a posicionar no espaço. As investigações podem ser úteis no tratamento de doenças como o Alzheimer.
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«Tentamos descobrir como o cérebro faz um mapa do espaço externo e da posição que ocupamos nele», explica Edvard Moser.
Veja aqui Edvard Moser a explicar o sistema de GPS do cérebro:
As células em causa encontram-se no hipocampo. As descobertas ajudam a perceber como as células cerebrais trabalham juntas para responder a questões fundamentais como saber onde estamos e como nos lembramos de caminhos ou percursos que nos tornam capazes de repetir viagens.
Entenda como se desenvolveu a investigação do casal Moser:
Investigações complementares
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As descobertas dos neurocientistas May-Britt e Edvard Moser, em 2005, vêm, de alguma forma, complementar o trabalho de O´Keefe. O casal Moser descobriu um outro componente que ajuda o cérebro a estabelecer o tal mapa de posicionamento no espaço. Estas células nervosas, situadas numa parte do cérebro próxima do hipocampo chamada córtex entorinal, ativavam-se quando um rato passava numa dada posição.
No espaço, essas células formam uma grelha hexagonal. Cada célula reage a um padrão espacial único. «Eles identificaram um outro tipo de célula nervosa, que chamaram de “células de grade”, que geram um sistema de coordenadas e permitem o posicionamento preciso», resume o comunicado.
Esperança no tratamento do Alzheimer
«Podemos dizer que é muito similar a um GPS. O sistema usa a posição dos ratos e a sua velocidade, mas não se importa com o ambiente em volta. Só regista mudanças de posição, como um GPS», explica Edvard Moser.
Os Moser descobriram também como as «células de lugar» e as «células de grade» trabalham juntas para permitir ao cérebro saber onde está e para onde vai. «Há comunicação com o hipocampo [onde se situam as "células de lugar"], onde temos a memória. A memória das linhas e do ambiente que nos rodeia», sublinha May-Britt.
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Edvard acrescenta que a diferença entre o cérebro dos ratos e o humano está no tamanho e no número destas células e explica como a descoberta pode travar o avanço de doenças como o Alzheimer. «A área onde se situam as células grade é a primeira a ser destruída em muitos pacientes de Alzheimer. Por isso, um dos primeiros sintomas da doença é o doente começar a perder o sentido de orientação», diz o investigador.
Quem são os vencedores?
John O'Keefe nasceu em Nova Iorque, em 1939, filho de imigrantes irlandeses. É professor e investigador do Instituto de Neurociência Cognitiva e do Departamento de Anatomia do University College de Londres.
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Edvard Moser nasceu na Noruega, em 1962. O psicólogo e neurocientista é diretor do Centro para a Biologia da Memória, na Universidade de Ciência e Tecnologia de Trondheim, na Noruega. Partilha o cargo com a mulher May-Britt Moser, nascida em 1963.
May-Britt Moser tornou-se na 11ª mulher a ganhar o Prémio Nobel da Medicina, desde 1901.
Os dois fundaram o Centro para a Biologia da Memória em 2002 e o Instituto Kavli para os Sistemas da Neurociência em 2007. Juntos já ganharam vários prémios, precisamente pelas investigações relacionadas com as «células de grade»
Os vencedores do Nobel da Fisiologia ou Medicina de 2014 receberão o prémio numa cerimónia em Estocolmo, no dia 10 de dezembro
Ao anúncio do Prémio Nobel da Medicina, vai seguir-se, na terça-feira, o anúncio do prémio da Física e, na quarta-feira, o Prémio Nobel da Química. O Prémio Nobel da Economia será anunciado a 13 de outubro e o da Literatura ainda não tem data definida para o anúncio.
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