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Guiné Equatorial: «Vivemos num país em que existe uma ditadura familiar»

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Mocache Massoko, diretor do «Diário Romb», um jornal de exilados em Espanha, duvida que Obiang cumpra qualquer uma das promessas feitas para garantir a entrada na CPLP

A Guiné Equatorial, que está em processo de adesão à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), está longe de ser uma democracia, acusam opositores internos e exilados, que reclamam um diálogo por parte do governo liderado por Teodoro Obiang.

«Vivemos num país em que existe uma ditadura familiar» que «faz o que for preciso para se manter no poder», diz Mocache Massoko, diretor do «Diário Romb», um jornal de exilados em Espanha, que duvida que Obiang cumpra qualquer uma das promessas feitas para garantir a entrada na CPLP, seja suspender a pena de morte em definitivo ou fomentar o ensino do português.

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Samuel Mba Mombe saiu da Guiné Equatorial para estudar medicina em 1975 e desde os anos 1980 que não volta ao país. Agora vive nos Camarões à espera que o regime caia. «Tenho sempre a mala pronta e quero morrer no meu país», diz o médico, que aponta o petróleo como uma das razões para a manutenção do regime.

«O petróleo foi uma desgraça para o país. Quando a Guiné era pobre, os países criticavam as atrocidades», mas «agora Obiang usa o poder do dinheiro para comprar toda a gente e lavar a sua imagem», acusa.

Sobre a adesão à CPLP, Samuel Mombe separa o regime das relações históricas e culturais com Portugal. «Os portugueses têm muitos laços com a Guiné. Eu concordaria com esta adesão num contexto democrático», afirma.

Para o exilado político, a promessa de falar português é «apenas uma coisa de papel que não pode ser levada a sério» por ninguém. «Mesmo as escolas já nem ensinam bem o espanhol», diz.

Agora, o futuro do país deve passar por um dos filhos de Obiang, o primogénito, Teodoro Nguema Obiang Mangue, conhecido como Teodorín, ou o filho da segunda primeira-dama e ministro do Petróleo, Gabriel Mbega Obiang Lima, de ascendência são-tomense.

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«Temo que a mudança possa ser violenta» porque ele vai «tentar converter o regime numa monarquia» e «quer manter o poder a todo o preço», diz à agência Lusa Samuel Mombe.

O favorito do clã de Obiang, os Esangui, é Teodorín, mas as multinacionais norte-americanas que controlam a extração petrolífera querem Gabriel. Para Samuel Mombe, «a sucessão para Teodorín seria um insulto a todos os guineenses, porque não tem capacidade intelectual ou mínima preparação para liderar o país».

Atualmente, «há uma luta no clã presidencial» e «cada um dos filhos tem as suas ambições». Por outro lado, «Obiang tem irmãos que também têm filhos e que também têm as suas ambições». Em particular, Armengol Ondo Nguema, irmão e confidente do Presidente desde o golpe de Estado de 1979, que depôs o tio dos dois, Francisco Macías. «Cada um deles têm os seus exércitos próprios e vão chegar ao extremo de se matar entre eles», vaticina Samuel Mombe.

Até porque, diz o médico radicado nos Camarões, a poucos quilómetros de Bata, a cidade continental onde nasceu, «Obiang nunca controlou o seu próprio clã». Encontra-se «cansado e só se mantém no poder porque não tem a certeza de o conseguir passar com segurança» para um dos filhos.

Na Guiné Equatorial há a tradição de morrer no sítio onde se nasceu. Para Obiang, esse sítio é Mongomo, junto à fronteira com o Gabão. O seu antecessor também era de lá e lá viveu os últimos anos de vida, antes de ser deposto pelo sobrinho. Agora, multiplicam-se investimentos no continente, onde vive a etnia "fang", de que faz parte.

Salomon Abeso coordena a oposição no exterior e tem insistido com o governo para um diálogo que permita uma transição para um verdadeiro regime democrático.

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