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Dois livros, publicados esta quarta-feira em Itália, fazem revelações sobre os casos financeiros do Vaticano, sobretudo a forte oposição interna às reformas financeiras do Papa. As obras, da autoria de jornalistas, retratam um Vaticano assolado por má gestão, ganância e corrupção e onde Francisco enfrenta dura resistência da velha guarda à sua agenda de reformas.
De acordo com a Reuters, os livros revelam novos documentos, na sequência dos que vieram a público no âmbito do "Vatileaks", escândalo de 2012 que precedeu a surpreendente renúncia do Papa Bento XVI em 2013. O novo escândalo, já denominado "Vatileaks 2", dá conta da fuga de documentos confidenciais sobre, particularmente, desvio de fundos destinados aos pobres e doentes para financiar o estilo de vida luxuoso de alguns cardeais.
As obras "Avareza", de Emiliano Fittipaldi do jornal "L'Espresso", e "Mercadores no Templo”, de Gianluigi Nuzzi da "Mediaset", denunciam as irregularidades que durante décadas foram cometidas com as finanças do Vaticano. Por exemplo, o desvio de 400 milhões de euros do "Óbolo de São Pedro", com doações provenientes de todo o mundo, para a Cúria Romana, ou seja, para a gestão da máquina.
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Os livros citam e-mails, atas de reuniões, conversas privadas gravadas e notas que demonstram o excesso de burocracia, a má gestão, o desperdício, e despesas milionárias com alugueres.
Cla-re-zaO Vaticano disse na segunda-feira que os livros "geram interpretações confusas, parciais e tendenciosas", num comunicado em que anunciou a prisão do padre espanhol Lucio Angel Vallejo Balda, de 54 anos, e uma perita leiga italiana, Francesca Chaouqui, de 33.
"Temos que esclarecer melhor as finanças da Santa Sé e torná-las mais transparentes", disse o Sumo Pontífice, de acordo com a transcrição da gravação citada no livro, que o autor diz ter sido feita secretamente por alguém na sala.
"Cla-re-za. Isso é o que é feito nas empresas mais humildes, e temos de fazer também", disse ainda o Papa. De acordo com o livro, citado pela Reuters, Francisco acrescentou que "não é exagero dizer que a maioria dos nossos custos estão fora de controlo".
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Esse escândalo, que levou à detenção e prisão do mordomo, ficou conhecido como "Vatileaks" e acredita-se que o alvoroço que causou tenha, em parte, motivado a decisão do Papa Bento XVI de renunciar no ano seguinte.
Papa está “bastante sozinho”“Espero que este livro mostre a todos que reformas é necessário fazer na Igreja, não só reformas estruturais ou a criação um novo dicastério (tribunal), mas o caminho para a verdadeira transparência”.
«A Igreja Universal tem um compromisso moral e ético, sobretudo para com os crentes, mas também para os não-crentes e agnósticos. Espero que o Papa Francisco consiga. Devo dizer que está bastante sozinho», acrescentou.
“Há alguns casos em que os parentes das pessoas que foram mortas e que estão à espera de ser beatificados ou canonizados podem pagar até 200.000, 300.000 ou 400.000 euros”, declarou.
Emiliano Fittipaldi mostrou-se surpreendido por ter descoberto que esse fundo de beneficiência tinha, no final do ano de 2010, cerca de 378 milhões de euros, que deveriam ter sido aplicados. “Quando descubro que estes fundos no estão a ser utilizados em obras de beneficiência, mas em outros fins, a coisa surpreende-me ainda mais”, concluiu.
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