Um refugiado norte-africano que viajava no inicio deste mês num comboio de Würzburg para Berlin, na Alemanha, sem bilhete, nem dinheiro, foi ajudado por uma desconhecida que se ofereceu para pagar o valor correspondente e assim evitar que o homem fosse detido.
Segundo o "The Independent", abordado pelo revisor e outros funcionários do comboio, o homem foi informado de que seria detido pela polícia na próxima estação por estar a viajar sem título de transporte. Sensibilizada, Rita Nentwig interveio e ofereceu-se para pagar os 131,50€ correspondentes.
Logo de seguida, a solidariedade multiplicou-se: outros passageiros, antes acanhados, começaram a dirigir-se à mulher e a oferecer “contribuições”, para que pudesse recuperar o dinheiro dado pelo bilhete.
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Primeiro levantou-se uma mulher que lhe ofereceu 10€. Depois, um homem que lhe deixou 20€, e logo de seguida uma jovem que pediu perdão por só poder contribuir com 5€. No final, a mulher tinha recuperado mais de metade dos 131€.
Uma lição para Merkel e para a Europa?“No final tinha recebido mais de metade do valor do bilhete. Quando saí do comboio apetecia-me abraçar toda a gente”, disse Nentwig ao jornal Die Zeit.
Só no primeiro semestre de 2015, um recorde de 137 mil pessoas fizeram a perigosa travessia, a maioria das quais fugida de guerras, conflitos e perseguições, segundo um relatório do início deste mês do Alto-comissário para os Refugiados da ONU (ACNUR). Um valor que traduz um aumento de 83% face aos primeiros seis meses de 2014.
Situação que não começou agora e que se reflete numa fatura “pesada” para a Europa: um estudo do consórcio Migrants' Files, divulgado em junho, revelou que os países europeus gastaram 11,3 mil milhões de euros nos últimos 15 anos a deportar imigrantes ilegais, e outros 1,6 mil milhões em controlo das fronteiras.
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Números que dão origem a histórias dramáticas, que mostram a impossibilidade de ajudar todos os que chegam à Europa. Os passageiros do comboio até podem ter ajudado o homem, mas a sua situação não se altera. O asilo não pode ser concedido a todos os imigrantes, algo que Angela Merkel deixou explícito na semana passada quando foi confrontada, num programa de TV, por uma adolescente palestiniana que vai ser deportada e não pode cumprir o sonho de ir para a universidade.
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Angela Merkel ficou aparentemente sensibilizada com a situação, mas explicou que "a política, às vezes, é dura", e que era impossível à Alemanha acolher as centenas de milhares de refugiados que querem entrar ou ficar no país.
Ainda que não se possam acolher todos os migrantes, a Comissão Europeia defende maior cooperação entre os Estados para combater mais eficazmente a imigração ilegal para a Europa, ao mesmo tempo que pede aos membros da UE que aceitem receber parte dos refugiados que chegam à Itália e Grécia, de forma a aliviar os custos gastos por estes países. Portugal já aceitou receber 1.500 nos próximos dois anos.
Porém, nem todos os países da União Europeia olham para o problema da imigração da mesma forma. A Hungria, por exemplo, decidiu optar por uma medida drástica para controlar o número de refugiados que diariamente atravessam a fronteira com a Sérvia, e já começou a construir uma vedação com quatro metros de altura entre os dois países.
O governo húngaro quer também restringir os direitos dos que fazem pedidos recorrentes para permanecer na Hungria enquanto os seus casos são decididos.
A Agência das Nações Unidas para Refugiados já apelou ao governo que não implemente as propostas que podem “ter consequências devastadoras”.
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