Já fez LIKE no TVI Notícias?

Blair sai, mas fica tudo na mesma

Relacionados

Criador da 3ª via, revolucionou por dentro o socialismo, e esse legado galgou fronteiras. Simboliza a aliança com os EUA, mas o seu sucessor não fará diferente. Elegeu o terrorismo como guerra do século XXI. A história deu-lhe razão

O primeiro-ministro Tony Blair cedeu às pressões da opinião pública britânica e até do próprio partido e anunciou que se demite no prazo de um ano. Do PSD ao Bloco de Esquerda, as opiniões sobre a condução da política externa divergem.

Numa análise histórica dos mandatos de Blair, Freire Antunes, historiador e deputado do PSD, não tem dúvidas que o trabalhista ganhou um espaço de destaque na História mundial.

PUB

«É o político que mais marcou o Reino Unido desde Margaret Thatcher. Enquanto a Dama de Ferro operou no mandato de Reagan uma revolução liberal, importante para o fim do bloco soviético, Blair revolucionou o socialismo».

Criadora da 3ª via, rompeu com o padrão do Estado providência e revolucionou por dentro o socialismo, fazendo chegar esse legado a outros países quase uma década depois. «A política de Blair é filha do liberalismo de Thatcher», diz Freire Antunes, que atribui boa nota ao primeiro-ministro britânico.

«Mesmo que em termos internos tenha sido criticado, a verdade é que o pacto existente entre Reino Unido e Estados Unidos é uma aliança histórica, que não era possível quebrar». O historiador considera que a aliança é na verdade um «pacto de guerra e de paz, como aliás existe entre Inglaterra e Portugal». E com essa linha de política externa, «Blair colocou o país na primeira linha da influência mundial». Na ligação visceral a Terras do Tio Sam, o britânico «mostrou que não é possível construir a Europa contra os Estados Unidos, ao contrário da França».

PUB

Apesar de ter criado momentos fracturantes na política interna, as suas opções foram as únicas possíveis: o Reino Unido acompanhou o seu aliado e os últimos acontecimentos vieram dar-lhe razão. «Evocou o terrorismo como a primeira grande guerra do século XXI e os últimos acontecimentos, mesmo no Reino Unido, provaram que estava certo: depois da Guerra Fria, o terrorismo é a grande ameaça global».

Quando na história recente, movimentos subversivos revolucionários eram considerados invencíveis - o magro exército vietnamita venceu o poderio militar dos Estados Unidos - o terrorismo prova ser de facto a força invencível que assombra o século XXI.

Freire Antunes não tem dúvidas que a história tornou Blair «um grande homem: quando se interpretam acontecimentos excepcionais a história engrandece os políticos». Dificilmente o sucessor ocupará um lugar de tanto relevo: «Blair é fruto de uma vontade renovadora, que revolucionou o socialismo, e o circunstancialismo histórico deu-lhe um lugar nos livros de História».

PUB

Questionado sobre se a aliança entre os EUA e o Reino Unido poderá sofrer algum abalo, o deputado social-democrata considera que «o pacto é independente de quem a encabeça».

Blair enganou Barroso

Para o porta-voz do PS, Vitalino Canas, Tony Blair «é um grande primeiro-ministro, que fez ressurgir o Reino Unido no contexto das nações e marcou o partido trabalhista».

O socialista considera que o primeiro-ministro britânico é «um líder forte, e é isso que a Europa precisa, independentemente do quadrante politico a que pertença», por isso, mas do que avaliar os efeitos da saída de Blair, Vitalino Canas, espera que o governante «tenha um sucessor à altura».

Mas o Bloco de Esquerda não faz uma avaliação tão positiva da passagem de Blair pela política mundial. Em declarações ao PortugalDiário, o líder parlamentar do bloco, Luis Fazenda, afirmou que «Blair teve um papel negativo na Europa e no mundo», inclusive para Portugal, já que «foi ele quem pressionou Durão Barroso para confirmar a existência de armas de destruição maciça no Iraque».

Para o dirigente do bloco, ao ser pressionado para sair, o primeiro-ministro britânico «está a pagar os juros da aliança que fez com Bush, nomeadamente na guerra do Iraque». E Fazenda também não concorda com a forma como esta saída está a ser conduzida. «Blair está a tentar retardar a sua demissão e isso é prejudicial para o partido e para o país».

PUB

Relacionados

Últimas