O escritor uruguaio Eduardo Galeano morreu esta segunda-feira, aos 74 anos, em Montevideo, noticiou o jornal «El País», na sua edição na internet, citando a editora do autor de «Vagamundo».
Galeano, segundo o diário espanhol, encontrava-se internado desde sexta-feira, num hospital da capital uruguaia, por causa de um cancro nos pulmões, de que padecia.
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«Las venas abiertas de América Latina» (As veias abertas da América Latina), que publicou em 1971, e «Memoria del fuego», de 1986, trilogia da História das diferentes Américas, destacam-se da sua obra, que se estende por mais de quatro décadas e que se encontra traduzida em mais de 20 idiomas.
Galeano nasceu a 3 de setembro de 1940, numa família católica de classe média, na capital uruguaia. Na infância quis ser jogador de futebol - facto que expõe em alguns dos seus textos, como «O futebol de sol a sombra» -, mas antes de se transformar num intelectual da esquerda latino-americana, foi operário, desenhador, mensageiro, empregado bancário.
Iniciou a carreira jornalística na década de 1960, como editor do semanário Marcha, onde também se cruzaram Mario Vargas Llosa e Mario Benedetti, e do diário Época.
Em 1973, o golpe militar do Uruguai levou Galeano à prisão e ao exílio na Argentina, onde fundou a revista "Crisis", que dirigiu até à instituição, no país, da ditadura do general Jorge Videla, em 1976.
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Galeano era um dos resistentes mais procurados pelos esquadrões da morte. Exilou-se em Espanha, onde iniciou a trilogia «Memória do Fogo». Regressou ao Uruguai, após a queda da ditadura, na década de 1980.
Escreveu «As veias abertas da América Latina» quando tinha 31 anos. A obra, proibida pelas ditaduras da Argentina, Chile e Uruguai, depressa se transformou numa das mais citadas sobre a evolução política do continente. Mais tarde, porém, o autor reconheceu que, naquela época, ainda não tinha maturidade suficiente para completar a tarefa:
«Tentei fazer uma obra de economia política, mas não tinha a formação necessária» recorda o diário. «Não me arrependo de ter escrito o livro, mas é uma etapa que, para mim, está superada», como cita a Lusa.
O escritor, interrogado sobre este episódio, respondeu: «Nem Obama nem Chávez poderão entender o texto […]. [Chávez] pode ter dado a obra com a melhor das intenções, mas ofereceu-o num idioma que Obama não conhece. Pode ter sido um gesto generoso, mas foi um pouco cruel».
«Siglo XXI»(Século XXI), o seu último livro, uma coletânea de contos, será publicado em Espanha na próxima quinta-feira.
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