«Para os EUA, o melhor ainda está para vir». A frase condensa o discurso da vitória eleitoral de Barack Obama. Ao longo de 22 minutos, entre «Signed, sealed, delivered» (I`m yours)», de Stevie Wonder, e «We take care of our own», de Bruce Springsteen, o presidente norte-americano estendeu a mão ao seu adversário, Mitt Romney, dizendo contar com ele para fazer frente aos desafios que o país tem pela frente, e pediu a mão a todos os norte-americanos, lembrando-lhes que «o papel dos cidadãos não termina com o voto».
Nas mãos de Obama, quando entrou em palco, estavam a mulher e as duas filhas, entre a voz de Wonder no sistema de som a cantar «You got my future in your hands» (têm o meu futuro nas vossas mãos) embrulhada entre os aplausos de uma sala repleta. Numa altura em que os desafios são ainda imensos, da economia à política externa, passando pela reforma da saúde à imigração, mais do que apontar para o passado, Obama apontou para o futuro. Puxou pelas cores da unidade, limando as arestas pontiagudas da campanha. «Não estamos tão divididos como a campanha sugere».
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«Foi uma batalha dura porque amamos este país», explicou, lembrando que em torno dos temas fundamentais, e nos momentos críticos, republicanos e democratas estiveram juntos. Apontou para a crise recente após a passagem da tempestade Sandy para ilustrar uma América que se une na adversidade.
Num gesto de bom perder, o site de campanha de Mitt Romney transmitiu ao vivo o discurso do Obama, cujos apoiantes puderam escutar que, mesmo longe da Casa Branca, Obama conta com o candidato vencido.
«Quero encontrar-me com o governador Romney», assegurou o vencedor da noite eleitoral, mostrando-se disposto a ouvir as suas propostas «para levar o país para a frente». Convite de circunstância ou não, Obama assegurou que quer avançar para o novo mandato num país unido. «Apesar de todas as nossas diferenças partilhamos esperanças comuns», salientou.
«Quer tenha merecido o vosso voto ou não, ouvi-vos, aprendi convosco, fizeram de mim um presidente melhor», assegurou.
«Este país tem mais riqueza do que qualquer outro, mas não é isso que nos faz ricos. Temos o exército mais poderoso na história, mas não é isso que nos faz fortes. As nossas universidades, a nossa cultura, somos a inveja do mundo, mas não é isso que faz com que o mundo venha até às nossas costas. O que faz a América excepcional são os laços que unem a nação mais diversificada à face da Terra», afirmou, numa reminiscência do Obama ainda senador do Illinois, que prometia «mudar o mundo» e dizia que não havia uma América racial, uma América de ricos e de pobres, mas uns Estados Unidos da América.
Mas com mais cabelos brancos na cabeça e menos lágrimas nos olhos dos que os ouviam, Obama assentou a tónica mais na «esperança» do que no que conseguiu até agora como chefe de Estado.
Apontando menos aos sonhos e ao «idealismo» e mais aos problemas dos norte-americanos, como o emprego, a crise que tem efetado a classe média, o acesso à saúde, a energia, os efeitos do aquecimento global. «Não estou a falar de uma otimismo cego», disse, apesar resistindo a apontar para mais além do que os olhos deixam ver: «Para os EUA, o melhor ainda está para vir».
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