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Suu Kyi, a dama recebe o Nobel 21 anos depois

Líder da resistência birmaneza recebe finalmente o Prémio Nobel da Paz em Oslo. Uma vida dedicada à luta pela liberdade

Daw Suu tinha o sonho de ver o seu país livre. Esse dia está cada vez mais próximo. 21 anos depois de ter faltado à cerimónia de entrega do Prémio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi estará presente este sábado em Oslo para finalmente receber a distinção e apresentar a sua conferência Nobel. A líder da resistência birmanesa é hoje uma mulher mais feliz depois de ter quebrado a resistência militar que votou o seu país à obscuridade.

Por estes dias, a cândida senhora de 66 anos (comemora mais um aniversário na terça-feira), cumpre um roteiro de emoções que a traz de regresso à Europa, onde casou e teve dois filhos. Suíça, Noruega, Irlanda e sobretudo o Reino Unido estão no seu trajeto, com a viagem a terminar em França num encontro com o Presidente François Hollande.

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A viagem de Suu Kyi tornou-se possível graças a um processo de reformas democráticas levado a cabo no país desde que a junta militar se dissolveu e passou o poder a um governo civil a 30 de março de 2011. Uns meses antes, em Novembro de 2010, tinha sido libertada da prisão domiciliária.

A mensagem de esperança, de mudança, nesta «Mandela» birmanesa, foi expressa pelo presidente do comité do Nobel da Paz. «Durante os últimos 21 anos, esta lutadora demonstrou que o prémio está mais do que justificado. Suu Kyi é um exemplo moral para o mundo. Apesar de ter passado a maior parte da sua vida recolhida na prisão ou em casa, nunca deixámos de ouvir a sua voz», disse Thorbjoern Jagland.

A 14 de outubro de 1991 foi anunciado que o Nobel da Paz ia para Aung San Suu Kyi, pela sua luta política a favor da democracia e dos direitos humanos na Birmânia. Ex-estudante da Universidade de Oxford, viu-se impedida de receber o prémio em Oslo por estar detida pela junta militar em sua casa, na capital Rangum. As autoridades alegavam que a pacifista apelava à sublevação contra o governo, para além de assumir a direcção da Liga Nacional para a Democracia (LND), um partido considerado ilegal pelos militares.

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Um ano antes a LND tinha vencido as eleições, mas o resultado não foi aceite pela junta, lançando a Birmânia para uma espiral de repressão. Daw (Dama) Suu tornou-se, então, um ícone da liberdade a nível mundial pela persistência na denúncia e da luta pela democracia. Uma mulher que sacrificou a vida familiar pela luta política, vendo-se impedida de participar no funeral do marido em 1999. Michael Aris morreu de cancro em Oxford, longe da mulher, com quem esteve apenas cinco vezes nos últimos dez anos de vida. Suu Kyi tem dois filhos, Alexander e Kim, que sempre viveram longe da mãe, apesar dos encontros ocasionais na Birmânia.

Aung San, o pai-referência

Em 1988, Suu Kyi era uma dona de casa em Oxford, mas uma visita ao país para visitar a mãe doente colocou-a no centro de um furacão político. Myanmar, nome do país imposto pela junta, vivia dias de contestação ao regime. Estudantes não calavam a revolta e eram massacrados nas ruas. Incentivada por um grupo de intelectuais, assumia a liderança de um novo movimento que viria a apresentar-se a eleições.

Naturalmente encantadora e transportando uma mensagem de paz, Suu Kyi convenceu o povo e venceu as eleições, o que desagradou à junta militar, que decidiu nunca mais parar de persegui-la. Respeitada pelos 55 milhões birmaneses, Suu Kyi é vista como a provável vencedora das eleições de 2015. Seria o culminar de uma luta intensa pela instauração da democracia num país pobre que faz fronteira com os bem mais prósperos Tailândia, Índia e China, para além de Laos e do Bangladesh.

A grande referência da sua vida continua a ser o pai, General Aung San, um herói da luta pela independência que foi assassinado em 1947 por rivais políticos apenas um ano antes da Birmânia alcançar a independência da Inglaterra. É por ele que Suu Kyi continua a lutar e só vai desistir quando a Birmânia for um país totalmente livre e democrático.

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