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Barómetro de Notícias: Público sem transportes

Utilizar os transportes públicos urbanos em Lisboa é quase uma opção masoquista. Esperas intermináveis, atrasos constantes e sobrelotação atingiram proporções insuportáveis

Por obrigação ou opção, o uso de transportes públicos deve garantir a mobilidade das populações e, ao mesmo tempo, contribuir para o seu bem-estar e para o equilíbrio ambiental.

Mas a situação atual é tão caricata que mais parece uma tragicomédia do que a realidade, em especial em Lisboa. Apesar da Deco ter recebido mais de 7 mil queixas só este ano, os media andam distraídos, não sendo despertos sequer pelo coro de protestos visíveis todos os dias nas redes sociais.

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Não só não há destaques sobre a situação de rutura, como até simples notícias parecem quase inexistentes, com a SIC a ser esta semana a única exceção. Ou os jornalistas andam todos de transporte próprio, ou o bem-estar das populações está longe do top das preocupações noticiosas.

Mas os factos são chocantes e facilmente verificáveis todos os dias, em qualquer ponto de Lisboa. No Metro há queixas e testemunhos de sobrelotação, atrasos constantes, dezenas de minutos de espera. Segundo a própria administração, há 20 carruagens a menos a circular, a linha Verde funciona com apenas 3 carruagens porque a estação de Arroios não tem capacidade para mais. E as obras de ampliação só começarão no verão 2017 e vão demorar 16 a 18 meses (na melhor das hipóteses). Portanto lá para o virar da década talvez haja melhorias na linha Verde. Mas o ridículo chega ao facto de há meses não haver bilhetes para venda nas máquinas automáticas, gerando filas monstruosas nas bilheteiras... quando estão abertas, o que não é garantido.

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Nos autocarros o cenário é igualmente terceiro-mundista: os placards de informação dão informações erradas e os autocarros e elétricos previstos não aparecem. O motivo é que apesar de estarem previstos, são apenas fantasmas num serviço em rutura total. Na Carris não é comprado um autocarro sequer há mais de cinco anos, em 4 anos perdeu 400 funcionários. A empresa diz que espera autorização para poder contratar pessoas e comprar 240 autocarros, o mínimo necessário para garantir o serviço público contratado e definido por lei.

E se em terra o sofrimento dos passageiros é garantido, no Tejo não é muito diferente. Os 80 mil passageiros diários do percurso Cacilhas - Cais do Sodré são muitas vezes confrontados com a diminuição da frequência dos cacilheiros, que em vez de partirem a cada 10 minutos passam para 20. Este é um exemplo, pois nas outras carreiras fluviais verificam-se situações similares. Mas nem tudo é negativo. Até ver, os barcos ainda flutuam.

Em Lisboa é assim, mas em Porto, Braga ou Coimbra, e nas outras cidades portuguesas, os transportes públicos apresentam falhas e decadência anunciada, face à falta de investimento generalizado, mesmo que os discursos políticos sejam sempre pro-transporte público.

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Mas quais as causas? Congelamentos de investimento e recrutamento de pessoal, descapitalização total e reversão de decisões tomados por todos os governos desta década. Da esquerda à direita, os partidos do poder mataram o serviço público de transportes. Os media, com o seu silêncio, são coniventes. E quem paga a fatura são aqueles que não têm alternativa e todos os que gostariam de contribuir para uma sociedade melhor.

Ficha técnica:

O Barómetro de Notícias é desenvolvido pelo Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL como produto do Projeto Jornalismo e Sociedade e em associação com o Observatório Europeu de Jornalismo. É coordenado por Gustavo Cardoso, Décio Telo, Miguel Crespo e Ana Pinto Martinho. A codificação das notícias é realizada por Rute Oliveira, João Lotra e Sofia Barrocas. Apoios: IPPS-IUL, Jornalismo@ISCTE-IUL, e-TELENEWS MediaMonitor / Marktest 2015, fundações Gulbenkian, FLAD e EDP, Mestrado Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, LUSA e OberCom.

Análise de conteúdo realizada a partir de uma amostra semanal de 413 notícias destacadas diariamente em 17 órgãos de comunicação social generalistas. São analisadas as 4 notícias mais destacadas nas primeiras páginas da Imprensa (CM, PÚBLICO, JN e DN), as 3 primeiras notícias nos noticiários da TSF, RR e Antena 1 das 8 horas, as 4 primeiras notícias nos jornais das 20 horas nas estações de TV generalistas (RTP1, SIC, TVI e CMTV) e as 3 notícias mais destacadas nas páginas online de 6 órgãos de comunicação social generalistas selecionados com base nas audiências de Internet e diversidade editorial (amostra revista anualmente). Em 2016 fazem parte da amostra as páginas de Internet do PÚBLICO, Expresso, Observador, TVI24, SIC Notícias e JN.

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