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Jazz português: cenários otimistas em tempo de crise

Inês Homem Cunha e Carlos Azevedo dizem que apesar de tudo o Jazz português está «vivo e de boa saúde».

A pretexto do Dia Internacional do Jazz tempo para ouvir quem sabe sobre o assunto: qual o ponto de situação acerca do Jazz em Portugal, numa altura em que toda a produção cultural parece refletir os efeitos da crise? A resposta talvez surpreenda, mas nos dois principais pólos de atividade e divulgação, Lisboa e Porto, há quem não hesite em deixar mensagens otimistas.

Inês Homem Cunha, diretora do Hot Clube de Portugal, o mais antigo clube de jazz na Europa, em atividade desde 1948, não tem dúvidas: «O jazz português? Está vivo e a espernear, como costuma dizer-se. Há muita gente a fazer coisas e acho que está de muito boa saúde. Os efeitos da crise financeira são comuns a toda produção artística, nenhuma arte é imune, mas o jazz não a reflete especialmente», diz.

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Diretor da Orquestra de Jazz de Matosinhos, compositor e professor, Carlos Azevedo partilha o tom: «O Jazz português está muito vivo, e recomenda-se. Está a ser afectado como tudo o resto, mas as pessoas continuam a fazer coisas muioto boas, está numa altura rica», diz, dando exemplo de projetos recentes, como a associação Porta-Jazz, que define como «um dos grandes acontecimentos culturais dos últimos três anos, no Porto».

Carlos Azevedo também é imune ao pessimismo quando lhe é pedido para comparar a situação do Jazz no Grande Porto por comparação com a realidade de Lisboa: «Não há grandes diferenças. Claro que em Lisboa acaba por haver mais músicos e iniciativas, mas o Jazz não é como outras áreas culturais, em que as pessoas são obrigadas a mudar de cidade se quiser prosseguir a atividade», diz.

Para a presidente do Hot Clube, o Jazz reflete um princípio de vida: «A maneira de lidar com as crises é com otimismo, e há sinais animadores a surgir em vários quadrantes» diz, manifestando-se também a favor de efemérides deste género: «Os dias internacionais de qualquer coisa fizeram-se para esse objectivo: que se discuta mais, que se mostre a mais pessoas, e isso voltou a acontecer», diz. Já Carlos Azevedo, mais contido, assume não ser adepto de efémerides, mas salvaguarda: «Aproveitamos para puxar pelo brio, claro, mas para músicos e entusiastas, todos os dias são dia do Jazz», diz.

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As diferenças notam-se também na resposta a um desafio: se fosse possível pedir um desejo, o que contribuiria mais para o crescimento do Jazz em Portugal? Inês opta pela notoriedade internacional: «Há muito talento, mas muito poucos são conhecidos no estrangeiro. O Jazz nacional precisa de partir e dar-se a conhecer lá fora, e é muito difícil que os músicos o façam sozinhos, sem apoios do Ministério da Cultura e das Embaixadas. Nem só o fado é património musical português», critica.

Já Carlos Azevedo aponta num sentido diferente: «Cresci numa altura em que o canal 2 da RTP fazia imensos programas de divulgação de música, com uma hora. E nessa altura até havia falta do que mostrar. Hoje há tanta coisa nova a acontecer, e tão pouco espaço para mostrá-la. A TV pública deveria fazer isso, programas temáticos, como os da BBC 3, porque até há meios de produção e conteúdos», diz.

Numa coisa voltam a estar de acordo: a melhor maneira de comemorar o Dia é levando música a novos ouvintes. Por isso, deixam a sugestão. No caso de Inês, o canal de Youtube do Hot Clube (HCP Jazz) onde se podem pesquisar peças de autores portuguezses contemporâneos. No mesmo sentido, a sugestão de Carlos Azevedo tem um lado afetivo e emocional: «Recomendo que se revisite a obra discográfica do Bernardo Sassetti, agora que está quase a fazer um ano sobre o seu desaparecimento», lembra, admitindo que teria «muito mais para dizer» sobre o pianista e compositor português. Fica a homenagem.

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