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Joan Baez canta «Grândola Vila Morena» em Lisboa

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Cantora deu um concerto memorável no Coliseu dos Recreios e deixou o público ao rubro com o tema de Zeca Afonso

Sintetizar 50 anos de carreira e 30 álbuns não é tarefa fácil. Quarta-feira, numa actuação de duas horas, completamente esgotada, no Coliseu de Recreios, a norte-americana Joan Baez, 69, não o tentou fazer, porque o público, maioritariamente da época pré-25 de Abril, já estava preparado, sem necessidade de persuasão, para o calor abraçante da voz de uma artista histórica.

Apoiada pelo quarteto liderado pelo irlandês John Doyle na viola, com o multi-instrumentalista Dirk Powell, no bandolim, violino, acordião e piano, Todd Philips no baixo, e Gabriel Harris, filho único de Baez, na percussão, a vocalista recuperou clássicos de Bob Dylan («Forever Young»), Leonard Cohen, Carter Family («Gospel Ship») e do contemporâneo Steve Earle («God Is God»).

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«Grândola Vila Morena», de Zeca Afonso, cantado com o público, foi o auge da visita de Baez a Lisboa, a sua primeira passagem desde 1980. O timbre de Baez, ao longo dos anos, tem vindo a adquirir uma qualidade materna, substituíndo a pureza estridente da sua voz na juventude.

«Diamonds and Rust», o tema que lança um olhar reprovador sobre a sua relação com Dylan («Eras tão hábil com as palavras», insinua um verso), foi seguido por «Love is Just a Four Letter Word», na qual a vocalista fez uma imitação cómica de Dylan durante um verso.

A mensagem política de Baez, que na sua juventude se colocava na linha da frente das marchas activistas sobre os direitos civis, não-violência e justiça social, continua relevante nos tempos actuais («um dia as crianças de Jerusalém largarão as armas», refere um verso do tema «Jerusalém»), mas a cantora fez questão de mencionar que «antigamente levava-me muito a sério, levava as minhas composições muito a sério, hoje em dia levo-me menos a sério, e estas composições menos a sério».

Quer fosse a cantar músicas com significados profundos ou a expressar opiniões poderosas, Joan Baez, apesar da sua habitual postura tímida, teve um domínio total sobre uma audiência lisboeta que não conseguiu conter os aplausos durante os temas (nos refrões, nos solos, no início e final das músicas), deixando a impressão que a actuação se adequava melhor às salas de café concertos mais íntimas onde Baez começou a sua carreira. No entanto, a artista não terá muitas oportunidades para regressar a Portugal, e quem teve a sorte de estar presente no Coliseu dia 10 de Março, terá presenciado o retrato de uma era, um ícone da nossa história cultural e política, um concerto memorável.

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