Quem dedica grande parte do seu tempo ao modo de produção biológico está a sentir na pele a crise que o sector está a atravessar. Os agricultores de produtos que «não prejudicam o ambiente» lamentam a falta de apoios do Estado e sentem-se injustiçados face à agricultura tradicional que, segundo dizem, é nociva para o equilíbrio do ecossistema e para a saúde.
O atraso de Portugal em relação à restante Europa é outro dos problemas apontados pelos produtores contactados pelo PortugalDiário. «Estamos num país que tem todas as condições para produzir com qualidade e isso não é aproveitado», diz Libério Ferreira, da ALCOBIO. Para José Raul Ribeiro, do Instituto do Desenvolvimento Rural e Hidráulica (IDRHA) o facto de «importarmos cada vez mais produtos que poderiam ser produzidos cá torna Portugal cada vez mais dependente do exterior».
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No entanto, «muito lentamente» a agricultura biológica está a ganhar um novo espaço. São cada vez mais os produtores de uma agricultura que, por não usar adubos ou pesticidas, traz consigo a promessa de uma vida saudável e a preservação do ambiente. No fim de 2004, 206 mil hectares de área agrícola estavam a produzir produtos biológicos. José Raul Ribeiro estima que, nesta altura, os números rondem os 250 mil hectares porque «estão sempre a aparecer novas áreas candidatas à agricultura biológica».
Em busca do aumento da produtividade, num «mercado competitivo», a solução encontrada pela agricultura moderna foi a mecanização e o uso de fertilizantes. Por seu lado, a agricultura biológica regressa às origens. Ao tempo do cultivo dos solos com adubos naturais, sem produtos químicos. Oferece, por isso, «alimentos com maior valor nutritivo e qualidade superior», ao mesmo tempo que «protege o ambiente, o solo e saúde humana».
Apesar de terem uma aparência pouco agradável aos olhos do consumidor os alimentos biológicos são cada vez mais procurados e a agricultura tradicional já amedronta muitos consumidores. «A doença das vacas loucas e os produtos com excesso de químicos estão a fazer com que os portugueses ponderem bem e escolham produtos de melhor qualidade», explica o gerente da ALCOBIO, Libério Ferreira para quem comprar um alimento mais «bonito» significa sujeição a «intoxicações e outros problemas de saúde» porque muitos deles são produzidos com «excesso de químicos».
No entanto, o progresso deste negócio pode estar limitado pelos preços a que são vendidos. Muitas vezes o custo de um produto natural duplica quando a «diferença deveria ser de 20 por cento», explica José Raul Ribeiro, do IDRHA. «É sempre mais caro porque a Agricultura Biológica precisa de mais mão-de-obra, produz menos e acarreta custos extra», acrescenta o também produtor que lamenta a «ganância» de alguns produtores que «estão a matar o mercado à nascença».
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