Marcelo Rebelo de Sousa considera que a vitória do partido de esquerda radical, Syriza, nas eleições deste domingo na Grécia foi um evento «histórico», e que o facto de o partido não ter conseguido maioria absoluta pode ser benéfico para o Governo de Alexis Tsipras.
No seu comentário semanal no «Jornal das 8» da TVI, Marcelo Rebelo de Sousa explicou que exatamente por se tratar de um partido de esquerda radical, a falta da maioria absoluta pode permitir um “desvio” das promessas iniciais anti-austeridade, sem que exista uma grande pressão da massa eleitoral sobre o novo Governo.
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«É realmente um momento histórico. Porque temos tido vitória de partidos de direita, de centro-direita, de esquerda e centro-esquerda, [mas não de esquerda radical]. E acho que pode ser uma sorte para [Alexis Tsipras] não ter maioria absoluta, porque se tivesse, as bases exigem-lhe tudo, [porque] tem “a faca e o queijo na mão” – “agora vais fazer tudo o que prometeste”. Sem maioria absoluta tem um álibi para negociar com outros partidos que estejam na família socialista, ou que estejam numa posição teoricamente mais moderada».
antevê três possíveis cenários«Uma reação “burra” é reagir com arrogância a isto, colocando em causa o voto dos gregos. (…) A forma inteligente é dizer: “vamos ver o que podemos encontrar como pontos de entendimento”»
«[Há] três teorias sobre o que vai acontecer com o Syriza: a primeira, a da direita, é a chamada teoria da vacina. [Os partidos de direita pensam] “apesar de tudo não é mau”, porque [Alexis Tsipras] para se manter radical e não perder o apoio das suas bases, vai entrar em confronto com a Europa, porque se não o fizer vai ser muito complicado na sua base social explicar que mudou de posição. E ou corre mal porque a Europa lhe fecha as portas, ou começa a ter problemas na sua base da apoio, o que [se traduz] numa vacina para a Europa. Depois há as posições de esquerda que são as teorias do dominó: O dominó duro e dominó suave. [Os primeiros, os mais próximos do BE, LIVRE e PCP] dizem que é muito bom. [Acreditam que o Syriza vai começar] um dominó que faz cair as políticas de Bruxelas. Depois há o dominó moderado, género PS, Socialistas Europeus, que [acham] que o Syriza pode obrigar Bruxelas a mudar de posição. (…) [Acreditam que vai conseguir] moderar as políticas de austeridade em que nos encontramos».
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«Isto beneficia todos. Quem tiver responsabilidades em Portugal vai beneficiar com este novo clima económico. [Mas] beneficia mais quem vai estar [no próximo Governo], porque isto demora tempo. O BCE começa a comprar [dívida] em março/abril […] e o Estado português fica mais à vontade para financiar a economia (…) [mas] o dinheirinho sonante no bolso das pessoas vai demorar quatro, cinco meses a chegar. [Com as eleições tão perto] (…) o próximo Governo é que vai estar mais de um ano com estas condições».
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