Já fez LIKE no TVI Notícias?

Enterrar a Ota, aterrar em Alcochete

Foi a vitória do bom senso e do ordenamento. Mas não foi uma vitória dos governos

O Governo aprovou o Campo de Tiro de Alcochete como localização do novo aeroporto internacional de Lisboa, ficando afastada a opção pela Ota. Foi a vitória do bom senso e do ordenamento. Mas não foi uma vitória dos governos.

Desde o longínquo ano de 1969 em que se decidiu criar o Novo Aeroporto de Lisboa, passaram quase 40 anos durante a maior parte dos quais predominou o secretismo dos relatórios, debatidos por especialistas. Mas a apresentação pública em Novembro de 2005 da escolha da Ota, despertou o que nunca antes se vira em 30 anos de Democracia: uma discussão generalizada sobre a relação entre os custos e os benefícios dessa infra-estrutura e as suas implicações para o futuro do país.

PUB

Nestes dois anos, a sociedade civil pronunciou-se cada vez mais esmagadoramente contra a Ota, defendida por um lobby regional, enquanto os adversários se estendiam do Algarve ao Minho. E nos mais dicersos quadrantes da sociedade civil, em particular na blogosfera, percebeu-se que a Ota era um erro.

Em Junho passado, surgiu a chamada proposta CIP sobre a localização do NAL em Alcochete, retomando, com nova fundamentação, a preferência já dada a um aeroporto na margem sul do Tejo em todos os relatórios encomendados pelos Governos.

Em 11 de Junho, o ministro Mário Lino anunciou na Assembleia da República o congelamento durante seis meses da decisão sobre o NAL. E entre muitas picardias, se chegou a esta histórica decisão de 10 de Janeiro de 2008, uma história que um dia há-de ser contada com pormenores ainda desconhecidos do grande público e com heróis pouco conhecidos, entre os quais me permito destacar o já falecido Engº Reis Borges, em tempos entrevistado aqui no PD.

PUB

A decisão por Alcochete é o início de um novo capítulo. Os 6000 hectares do Campo de Tiro permitem implementar um aeroporto que terá de crescer de modo faseado e por módulos conforme a evolução de diversos factores: as disponibilidades financeiras, o preço do petróleo, os fluxos turísticos, o escoamento de mercadorias e o interface com outros meios de comunicação e plataformas logísticas; crescendo de um modo faseado, pista a pista, o país poderá dispôr de um grande aeroporto com as infra-estruturas necessárias.

Os voos low-cost e charters do espaço Schengen poderão a muito curto prazo ir para Alcochete. E a Área Metropolitana de Lisboa garante um modelo aeroportuário eficaz e competitivo para o mercado nacional.

Também é preciso extrair consequências políticas de todo este processo. É patente que a Democracia é a decisão do Estado precedida por debate na sociedade ciil. A decisão por Alcochete foi boa porque, desta vez, o Estado não foi arrogante.

Mas agora vem o grande desafio do ordenamento. O desenvolvimento integrado do território que se estende desde o litoral alentejano a Espanha, pode começar pelo grande estaleiro de obras na Europa que será o NAL em Alcochete. É preciso apressar a ligação Lisboa Madrid em comboios de Alta Velocidade. É preciso assegurar a terceira travessia do Tejo pelo Montijo.

PUB

É preciso que a ligação ferroviária em Alta Velcidade com o Norte se faça pela margem esquerda do Tejo Mas está o Governo preparado para coordenar estas políticas sectoriais de transportes? Existe visão estratégica para perceber que o ordenamento está nas nossas mãos e não depende nem de Bruxelas nem de Washington?

Poderemos continuar a ver aprovados quase clandestinamente programas como o PROT.AML, sem ponderarmos alternativas sobre a localização de grandes equipamentos estruturantes?

A escolha de Alcochete foi uma vitória do ordenamento. Agora faltam outras decisões críticas para as quais o país tem de continuar vigilante.

PUB

Últimas