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A liberdade na ditadura de Salazar

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Aveiro assinala 50 anos após o congresso que reuniu na cidade a oposição ao regime do Estado Novo

Aveiro vai assinalar, sob a égide do governo civil, o cinquentenário do I Congresso Republicano, que a 06 de Outubro de 1957 reuniu na cidade a oposição ao regime do Estado Novo.

A realização do evento, em pleno salazarismo, com autorização concedida pelo então governador civil, Vale Guimarães, ainda hoje é vista como acontecimento surpreendente, que alguns dos documentos que vão estar em exposição no Teatro Aveirense, durante as comemorações, poderão ajudar a compreender.

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Na evocação daquele que foi o primeiro dos congressos oposicionistas, sobressaem as figuras de Mário Sacramento e Vale Guimarães.

O primeiro, médico com afinidades conhecidas ao PCP, foi reconhecidamente o grande impulsionador da sua realização, ainda que tivesse deixado ao republicano histórico Manuel das Neves a presidência da comissão promotora, provavelmente por entender que essa era a opção mais acertada para tornar o encontro mais abrangente entre a oposição democrática.

O segundo, Vale Guimarães, colega de Liceu e amigo pessoal de Mário Sacramento, o que não deixará de contribuir também para a viabilização do Congresso, teve o mérito de conceder a autorização, que tanto surpreendeu situacionistas e oposicionistas.

Ao empenho pessoal de Mário Sacramento na iniciativa não é alheia a orientação seguida pelo PCP na época pós-estalinista, sob influência de Júlio Fogaça e com Álvaro Cunhal detido na prisão pela polícia política.

O PCP, com a sua máquina clandestina afectada por uma vaga de prisões, isolado da restante oposição pela guerra fria e pela propaganda anti-comunista do regime, define na reunião do comité central de 1955 o retorno à via de uma «ampla unidade anti-salazarista» e a ida às urnas numa «vasta frente eleitoral» com os restantes oposicionistas.

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É nesse contexto que surge a participação activa dos comunistas no I Congresso Republicano, em que se preparavam já as listas para as «eleições» parlamentares, representando o regresso do PCP à unidade da oposição.

Mário Sacramento é mesmo o principal impulsionador, fazendo-se rodear de figuras de prestígio do republicanismo e de outros sectores da Oposição.

Ao acolhimento de Vale Guimarães, formalmente concedido pela autorização dada a 11 de Setembro de 1957, não será alheia a sua conotação com a «ala reformista» do regime, a que pertenceria também o ministro que o nomeou, Trigo de Negreiros, e que via em Marcelo Caetano a sua principal promessa.

Nesse sector e por essa altura, chegou a ser admitida a possibilidade de afastar Salazar pela via constitucional, levando Craveiro Lopes a demiti-lo, mas Oliveira Salazar, antecipando-se, escolheu outro «candidato» presidencial, Américo Tomás, e, pouco tempo depois, assistia-se a um novo endurecimento do regime, que levaria ao afastamento de Trigo de Negreiros da pasta do Interior e de Vale Guimarães como representante do governo no distrito.

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