Nove pessoas já foram ouvidas na comissão de inquérito à tentativa de compra da TVI, mas, até agora, nenhuma provou que houve intervenção do Governo ou que Sócrates mentiu no Parlamento.
No entanto, os depoimentos levantaram uma série de dúvidas e contradições aos deputados da oposição, nomeadamente no que diz respeito às datas do negócio falhado.
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«Antes de Maio»: Paulo Penedos disse que Rui Pedro Soares já andava a preparar o negócio antes de Maio. Nesse mês, o ex-consultor jurídico da PT analisou o contrato para José Eduardo Moniz se tornar consultor da PT.
28 de Maio: uma acta da reunião do conselho de administração apresentada por Pacheco Pereira refere como «ponto de situação» as «negociações que decorrem também com a TVI».
3 de Junho: deputados tentam confirmar que a viagem a Madrid de Rui Pedro Soares era para negociar com o patrão da Prisa, Manuel Polanco. Foi pedido o plano de voo à PT, mas até agora ninguém confirmou o objectivo da viagem.
19 de Junho: há uma reunião na PT, que já tinha sido confirmada por Zeinal Bava na comissão de Ética, onde o negócio alegadamente começa a ser preparado. Segundo o presidente da comissão executiva, Rui Pedro Soares participou porque «era a pessoa que estava à mão». As declarações de Paulo Penedos sobre a preparação do negócio «antes de Maio» colidem com estas afirmações.
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No mesmo dia, Rafael Mora, membro do conselho de administração da PT e vice-presidente da Ongoing, conversa com José Eduardo Moniz sobre a ida deste para a
Ongoing e a possível entrada desta empresa na Media Capital. Moniz já sabia que a PT queria comprar a TVI, Mora não.
22 de Junho: Rafael Mora questiona Henrique Granadeiro sobre os «rumores». O presidente da PT não sabia de nada.
23 de Junho: fuga de informação ao jornal «i» divulga o interesse da PT na TVI.
Há um plano de voo que confirma que Rui Pedro Soares foi para Madrid. Bava tinha dito na comissão de Ética que o ex-administrador da PT era o «fiel depositário» de um documento. Os deputados têm na mão uma term sheet [pré-acordo] que acreditam ser esse documento. Mas não há confirmação.
A PT comunica à CMVM que existem negociações, mas não acordo. Quando comentou pela primeira vez o assunto, Henrique Granadeiro disse ao «Diário Económico» que falou com Sócrates neste dia para revelar o conteúdo deste comunicado. Um dia depois, corrigiu ao «Público»: afinal só falou com o primeiro-ministro a 25 de Junho, num jantar em casa de Manuel Pinho.
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24 de Junho: Sócrates é confrontado com a notícia do «i» no Parlamento e nega ter qualquer informação sobre o negócio. À noite, Manuela Ferreira Leite, numa entrevista à Sic Notícias, diz que o primeiro-ministro mentiu.
25 de Junho: Cavaco Silva pede esclarecimentos à PT.
Há uma reunião da comissão executiva e outra do conselho de administração, segundo confirmou Fernando Soares Carneiro. Os administradores da PT garantem que foi a primeira vez que se falou do negócio no CA; no entanto, Pacheco Pereira foi à acta descobrir que «Zeinal Bava começou por recordar que já no conselho anterior tinha referido as negociações com a TVI».
Em Rafael Mora, nessa reunião, ficou a impressão de que «o negócio não tinha chegado ao fim». Jorge Tomé, representante da CGD na PT, diz o contrário.
Na reunião do CA, fica decidido que Zeinal Bava vai à RTP esclarecer os portugueses e dizer que não há acordo. Segundo Granadeiro disse na comissão de Ética, neste dia, o próprio e Bava já tinham decidido não avançar com o negócio. No mesmo dia, Mário Lino esteve com Sócrates e decidiram não apoiar o negócio.
26 de Junho: Lino reúne-se com Granadeiro e Zeinal para dizer que o Governo não estava de acordo. O presidente da PT comunica aos administradores que o negócio não se fará, enquanto Sócrates diz no Parlamento que o Governo se opõe ao negócio.
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