A esquerda esteve unida no ataque à direita no que toca às sanções que Portugal pode ser alvo, sendo que a Comissão Europeia já abriu caminho para isso mesmo. No debate sobre o Estado da Nação, Jerónimo de Sousa pediu coragem ao Govero na luta contra essas penalizações e depois foi mais longe, ao pedir para revogar o Tratado Orçamental. Catarina Martins disse ao primeiro-ministro que pode contar com o Bloco de Esquerda para lutar contra as sanções, mas na primeira ronda não falou no referendo que propôs na convenção do BE caso as sanções se confirmassem. Só o fez numa declaração no púlpito, duas horas e meia depois do início da discussão.
PUB
"Quando o BE falou em referendo a reação foi de choque, mas esse choque deu lugar a um debate mais ou menos técnico sobre como consultar o povo. O Presidente da República já veio reconhecer que sempre defendeu referendos sobre passos a dar na Europa. Não nos enganemos. Quando se agrava o pior da UE, sim, o povo quererá ser ouvido, seja sobre o Tratado Orçamental, sobre o tratado das sanções, seja para construir uma solidariedade europeia [que não se coaduna] com a humilhação"
PUB
Para o Bloco, o referendo virá mais cedo ou mais tarde "não porque o BE propõe, mas porque o país exigirá pronunciar-se sobre a UE".
Antes, na primeira ronda, essa palavra não tinha entrado no seu discurso, nem quando se dirigiu a António Costa. Preferiu, antes, passar ao ataque à atuação da Comissão Europeia e à direita portuguesa.
"A direita está a gostar de ver o país sob ataque. São contra sanções, mas não perdem oportunidade de dizer que é problema deste governo e não do anterior. Maria Luís, Passos Coelho e Assunção Cristas vão dizendo à vez que são contra, mas que o atual governo merece. A direita a torcer pela Alemanha"
Ao primeiro-ministro, disse que é verdade que têm tido as suas diferenças, nomeadamente quanto ao sistema financeiro, à reestruturação da dívida e à Europa, mas que pode contar com o BE na luta contra as sanções.
"A nossa prioridade é impedir sanções por todos os meios possíveis e manter o nosso acordo comum para recuperação dos rendumentos em Portugal. Nada nos desviará desse caminho"
PUB
Depois, perguntou ao primeiro-ministro se se comprometeu com algum tipo de medida de austeridade com Bruxelas e Costa foi ainda mais assertivo do que na sua declaração inicial, na qual prometeu que não há qualquer plano B em vista.
PCP quer "revogação imediata" do Tratado Orçamental"Não assumimos nenhum compromisso e até lhe digo mais: não assumiremosqualquer compromisso de medidas adicionais ou plano B"
Da parte do PCP, o discurso também não foi tão extremado no início, mas na segunda intervenção, Jerónimo de Sousa pediu que a proposta do PCP de convocação de uma cimeira intergovernamental vá avante e que se proceda à "revogação imediata" do Tratado Orçamental.
PUB
"Estamos todos, parece, de acordo com a rejeição das sanções, mas servirá alguma coisa deixar as sanções pelo caminho enquanto os instrumentos, as regras, os tratados refletem precisamente isso: o caminho para impor sanções. Reverter os tratados e suspender, nomeadamente, o Tratado Orçamental é uma questão de urgência".
António Costa já não teve oportunidade de responder, mas antes, e como sempre tem feito nas respostas ao PCP em debates no Parlamento, fez questão de frisar que fora da UE o país teria "sempre mais dificuldades" do que aquelas que temos dentro da União. "Mas há formas de estar e estar na UE. Com clareza, lealdade, frontalidade na defesa dos nossos interesses".
"Recuso-me a aceitar que não seja possível fazer. Mesmo neste processo das sanções, tem sido muito difícil, com minas armadilhas, temos conseguido e conduzido este processo da forma menos danosa possível para o país. Não sei se vai ser possível que assim seja até à última deliberação do Conselho, apesar de tudo facto de hoje não ter tomado a iniciativa da aplicação de qualquer sanção, considero da maior relevância"
PUB
Na primeira ronda, o secretário-geral do PCP condenou que a Comissão Europeia esteja "a discutir já os novos prazos para que estejamos sob ameaça permanente". Como agir perante isto? "Temos de rejeitar [as sanções] – não com verbailismo, mas com coragem, muita coragem na defesa do interesse nacional e da nossa soberania", defendeu. Usou também da ironia para se dirigir a Bruxelas.
"Perante a ameaça das inaceitáveis sanções, o PSD lamenta, mas justifica a culpar o governo atual, culpar os portugueses e dar força à chantagem da Comissão Europeia. [Bruxelas dizer que o] esforço orçamental em 2015 ficou aquém do recomendado é ingratidão, são mal-agradecidos por tudo o que PSD e CDS fizeram no Governo".
Ao PSD, carregou novamente nas críticas estilísticas, ao dizer que está a "tentar por o conta quilómetros a zero a partir de outubro do ano passado" e, mais do que isso, pôr "a mudança de marcha atrás", querendo "varrer da memória coletiva o pacto de agressão" dos últimos anos.
PUB
Também Heloísa Apolónia, d'Os Verdes, defendeu que "esta chantagem, esta pressão que os portugueses hoje estão a viver relativamente a esta ameaça é uma evidência da Europa que temos". "A Europa nunca aprende. Não perde a oportunidade de mostrar que a sua política é contra os povos, de continuar a massacrar. A obrigação que temos é claramente dizer não, não aceitamos sanções", acrescentou.
Registou que não há plano B nem nenhum pacote de austeridade "na manga" e partiu igualmente ao ataque à direita.
"Quanto às declarações da ex-ministra das Finanças, Maria Luís ALbuquerque dizendo até com grande prepotência que não haveria sanções nenhumas, o que pensei foi que o que sacava logo do pacote da austeridade para ver se calava a Comissão. Com grande alívio dizemos que, ainda bem, PSD e CDS já não são Governo"
Perante tais palavras, António Costa sorriu e quando respondeu aproveitou para lembrar uma frase proferida durante a anterior Governação, de que os portugueses estavam pior, mas o país estava melhor. "Hoje, portugueses estão melhor e país está muito melhor. Esta é a realidade", rematou.
PUB