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Ministra diz que precariedade na Cultura não tem solução "em dois meses"

Graça Fonseca diz que pandemia agravou os problemas do sector que já vêm de há 20 anos. Ministra visitou Évora e foi controntada com manifestações

A ministra da Cultura disse hoje que a precariedade dos profissionais do setor ficou “mais visível” com a Covid-19, mas o Governo não pode “resolver em dois meses o que não foi resolvido em 20 anos”.

Todos nós estamos a viver uma situação” para a qual “nenhum de nós estava preparado. Não vale a pena dizer o contrário”, afirmou a ministra Graça Fonseca, aludindo à pandemia do novo coronavírus (SAR-CoV-2) e aos respetivos constrangimentos que tem provocado.

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Em Évora, onde visitou as obras do centenário Teatro Garcia de Resende, Graça Fonseca foi confrontada, à entrada e à saída, com uma manifestação de mais de 100 profissionais de várias áreas artísticas da cidade alentejana.

Em declarações aos jornalistas, no interior do teatro, a governante reconheceu que a situação decorrente da doença provocada pelo SARS-CoV-2 evidencia a precariedade do setor cultural.

Trata-se de “uma situação que coloca mais visível a situação, já de si difícil e precária, de muitos profissionais do setor da cultura”, que “é algo que existe há mais de 20 anos”, afirmou.

Segundo a ministra, o Governo está “a trabalhar” e assumiu “o compromisso de, ao longo deste ano, resolver as questões laborais, de carreiras contributivas” ou “de descontos” destes profissionais, entre outras matérias.

Mas “não podemos resolver em dois meses o que não foi resolvido em 20 anos, não é possível”, ressalvou, exemplificando que o facto de “a maioria dos profissionais” do setor “só ter recebido 219” euros de apoio pela redução da atividade “é um reflexo, precisamente, de carreiras e de questões laborais e contributivas que não foram resolvidas nos últimos anos”.

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Os manifestantes, munidos de cartazes, onde referiam a sua profissão, a estrutura cultural que representam ou as dificuldades que enfrentam, e com gritos como “Fonseca não tens graça nenhuma”, tentaram falar com a ministra, mas esta evitou-os e foi inclusive seguida por alguns, até entrar no automóvel.

“As manifestações fazem parte da democracia, acho que é importante. Aliás, acho que é mesmo importante que existam até na perspetiva de chamar a atenção das pessoas para o valor que a cultura tem nas nossas vidas”, disse a ministra aos jornalistas.

Questionada pela agência Lusa sobre o manifesto lançado hoje pela Rede de Livrarias Independentes (RELI), com o objetivo de chamar a atenção para o “insuficiente apoio do Estado português” face à pandemia, Graça Fonseca disse compreender que “todos os setores da cultura estão a passar por dificuldades particulares” e que tem “falado com muitos”, sendo a RELI “um parceiro”.

Durante o período de emergência, o Governo abriu uma linha de compra de livros a editoras independentes e, “na segunda-feira”, vão ser anunciados “os resultados dessa aquisição de 400 mil euros”, estando para este ano prevista ainda a aquisição de “mais 200 mil euros de livros na relação com as bibliotecas”.

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“A campanha que estão a fazer e que começa hoje visa alertar o Estado e o Estado está alertado, mas também visa algo muito importante, que é as pessoas darem valor ao livro, a comprar um livro” e perceberem “que um livro tem um valor cultural, mas também económico”, afirmou.

A propósito do Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, em Évora, cujo diretor, António Alegria, alertou, na quinta-feira, para a “falta crítica” de funcionários para a vigilância, a ministra admitiu que a instituição “não é caso único” no país”.

“Há mais de um ano e meio, pelo menos desde que eu sou ministra, que temos falado da questão dos funcionários nos diferentes museus. É algo que temos vindo a mapear, identificar e sabemos quais são as faltas, as previsíveis aposentações nos próximos anos e temos de ter um plano para resolver” o assunto, argumentou.

Trata-se de algo “transversal ao setor público e tem que ser um trabalho, como está a ser feito, de coordenação transversal ao Governo” para “conseguir colocar mais pessoas nos sítios onde elas fazem mais falta e os museus” são, “claramente uma delas”, argumentou.

Além de visitar Évora, onde esteve numa livraria independente, num centro de investigação da universidade e inaugurou uma exposição, Graça Fonseca começou o dia em Montemor-o-Novo, no Convento da Saudação, em obras, e na associação Oficinas do Convento.

No domingo, a ministra continuará por terras alentejanas, no distrito de Portalegre, com visitas a espaços e equipamentos culturais em Elvas, Campo Maior, onde participa na apresentação da candidatura das Festas do Povo a Património Cultural Imaterial da UNESCO, e Castelo de Vide.

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