Manuel Alegre afirma em entrevista publicada esta sexta-feira no jornal «Público» que não se revê «neste PS», cujo aparelho partidário é «um muro perfeitamente impenetrável», mas rejeita a criação de novo partido, defendendo que a mudança tem de ser feita «por dentro».
«Claro que já não me revejo neste PS. O que não quer dizer que este PS não tenha socialistas ou que entre aqueles que votam e apoiam o PS não haja muitos socialistas. (...)Aquilo a que se pode chamar o aparelho partidário, que são as estruturas, os que estão à frente da direcção nacional, das direcções intermédias, das federações, nas autarquias. Isso é um muro perfeitamente impenetrável», acrescentou.
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Alegre recusa pressões para formar novo partido
«Portugal tem défice de confiança e esperança»
Manuel Alegre questionou se o PS «ainda se move por alguma ideologia», interrogando-se sobre a actual política do governo, a quem reconhece algumas reformas, como a interrupção voluntária da gravidez e a procriação medicamente assistida.
O deputado socialista e ex-candidato presidencial independente reconhece também a necessidade das reformas para garantir a sustentabilidade da Segurança Social e do Serviço Nacional da Saúde.
«Mas estamos a fazer reformas ou estamos a fazer contra-reformas? Eu sei que as pessoas vivem mais tempo, há uma diminuição demográfica, há um peso migratório. As condições mudaram. (...) Mas o que me pergunto é qual o sentido das reformas? Será que não há alternativas? Penso que o papel dos socialistas é criar soluções alternativas. É fazer as reformas no sentido de garantir a viabilidade e de reforçar os serviços públicos, não de os esvaziar, como é hoje a receita única», afirmou.
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Mudar o partido por dentro
Interrogado sobre se a solução é criar um novo partido, Manuel Alegre sublinhou que as alternativas até agora têm sido proporcionadas por movimentos de cidadãos, apontando a sua candidatura presidencial e a candidatura independente de Helena Roseta às eleições à Câmara de Lisboa, «com os resultados conhecidos».
«Mas os partidos existem e têm de existir. Só que é muito difícil mudar um partido por dentro. Portanto, como fazer? Eu não tenho uma solução milagreira no bolso», afirmou.
«Sei que as pessoas desconfiam hoje dos partidos e a tendência é mais para movimentos de cidadãos. Mas há muita gente ligada ao PS que é gente boa, quer nas suas bases, quer nos seus dirigentes, quer nos seus votantes. Penso que é preciso criar aqui um mecanismo de debate e uma corrente de opinião de socialistas, que debata, para dentro e para fora, e que ponha as coisas a mexer, para dentro e para fora. Para quebrar uma muralha de betão armado», acrescentou.
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