António Costa e o seu Governo entram em agora na plenitude de funções, com apoio parlamentar de toda a esquerda. No debate do programa de Governo, o deputado Paulo Portas agrupou-a na sigla BFF, muito usada pelos jovens: Best Friends Forever. Será para sempre? Leia-se, quatro anos? Passos Coelho, já na qualidade de líder da oposição, antecipa já novas eleições. Troca de lugar, mas fica à espreita no muro que os socialistas dizem ter sido derrubado. PSD e CDS-PP ainda apresentaram uma moção de rejeição, mas ao contrário do que com eles aconteceu, foi... rejeitada. Dez horas e meia de discussão e dois dias depois, o XXI Governo Constitucional passou no Parlamento. Do ataque à direita que caracterizou os últimos meses da política nacional, os membros do Governo e do Partido Socialista mudam agora de estratégia. Os partidos à direita até podem ter sido acusados de serem “muito barulhentos”, no primeiro dia do debate, mas a mensagem final da discussão do programa de Governo foi: diálogo precisa-se. E com todos: grupos parlamentares e sociedade civil. O Executivo, na sua ação, e o PS, o Parlamento, prometem procurá-lo “incessantemente”. Com a esquerda. Mas também com a direita.
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Puro "ressabiamento”, reagiram os socialistas, lembrando que tanto é povo quem vota na direita, como é povo quem vota nas esquerdas. Foi assim, entre estrangeirismos, ditos populares e estas novas conjugações políticas que se abriu uma nova fase política em Portugal.
Medidas do Governo PSvárias medidasPUB
Vêm aí mudanças também no mercado de trabalho e Segurança Social, resultantes do entendimento à esquerda. Mas BE e PCP fizeram questão, nestes dois dias, de vincular os governantes socialistas aos acordos escritos, pedindo já prazos mais concretos de execução. O ministro Vieira da Silva preferiu falar apenas em prioridades.
No caso da Ciência e Ensino Superior, ministro criticou os cortes sofridos, mas assumiu também constrangimentos, sem se comprometer com números. O Simplex também é uma novidade renascida, com a ministra da Modernização Administrativa a fazer várias promessas, sem se comprometer com datas.
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Já quanto às Finanças, a pasta mais badalada dos últimos quatro anos, agora nas mãos de Mário Centeno, o ministro falou só no primeiro dia mas foi citado e criticado nos dois. Depois de ter dito que “a saída limpa foi um resultado pequeno, para uma propaganda enorme”, teve a resposta de Portas um dia depois. O líder do CDS sentiu-se “insultado” em nome dos portugueses. Homem das contas, a direita acusou-o ainda de não ter apresentado “um único número”.
Para o primeiro-ministro, as Finanças não são, ao contrário do último Governo, a segunda pasta na hierarquia. Nem a terceira, mas a quarta. A direita desconfia da governação que aí vem e, por isso, desafiou-o a apresentar uma moção de confiança ao seu Governo. António Costa repescou o slogan eleitoral que apregoava uma “alternativa de confiança” para responder a PSD e CDS-PP.
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Este governo já é “confiante”, garantiu. E tem a ajuda de BE, PCP e PEV. O PAN disse 'nim': depois de ter chumbado o programa de Governo da direita, agora absteve-se na moção apresentada contra o programa do Executivo Socialista. Já Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Heloísa Apolónia deram a mão a António Costa, com intervenções políticas mais moderadas. Sentiu-se, literalmente, o tom de voz mais baixo para com o PS, já que agora o apoiam no Parlamento. Vincaram, ainda assim, as “diferenças” programáticas relativamente aos socialistas e assumiram o papel de escrutínio que também lhes cabe no cumprimento do(s) acordo(s).
E, recorde-se, eles não excluem a possibilidade de Costa e o seu Executivo serem alvo de moções de censura daqueles três partidos. Nesse caso, a sigla de Portas mudaria para BBNF (Best Friends Not Forever).
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